Revista ESPM - jul-ago - Revolução Silenciosa - educação executiva como vantagem estratégica das empresas - page 136

Globalização
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Revista da ESPM
| julho/agostode 2013
convida a permanecer numa posição subserviente ou, na
melhor das hipóteses, repetir omodelode exploraçãoque
permitiu a ascensão dos países dominantes.
OsociólogoDomenicoDeMasi temargumentos seme-
lhantes aos da
The Economist
para celebrar opaís como “o
melhor dos mundos existentes”. Ele lembra que o Brasil
é a única democracia do planeta onde o PIB cresce conti-
nuamente por 30 anos, as distâncias sociais diminuem
e a alternância no poder é assegurada por eleições demo-
cráticas. Sugere que oBrasil ocupe um lugar diferente no
palcomundial. Mais do que protagonista da cena, o país
deve assumir o papel de roteirista de umnovomundo. O
sociólogo italiano afirma ainda que, depois de copiar o
modelo europeu por 450 anos e omodelo americano por
mais 50 anos, o Brasil agora tem a oportunidade histó-
rica de elaborar ummodelo teórico de sociedade para si
próprio, que possa servir de referência aos outros países.
Mãos à obra
Construir esse novo papel no mundo não é, contudo,
tarefa fácil. Quinhentos anos de subserviência não se
dissolvemda noite para o dia. “Essa mudança não ocor-
rerá apenas pelo crescimento econômico, mas princi-
palmente pela capacidade de distribuir igualmente a
riqueza, o trabalho, o poder, o saber, as oportunidades,
tudo associado à autoconsciência da nova situação obje-
tiva que vive o país”, explica De Masi. Ou seja, o traba-
lho passa também pelo imaginário, pela revogação do
folclórico “complexo de vira-lata” definido por Nelson
Rodrigues no livro
À sombra das chuteiras imortais
(Cia.
das Letras, 1993), como a inferioridade de nos colocar-
mos, voluntariamente, em face do resto do mundo.
Isso é algo ainda mais presente, como alerta Contardo
Calligaris, emartigopublicadonodia22demarçode2001,
na Folha Ilustrada, do jornal
Folha de S.Paulo
. Em
Brasil e
EUA: uma diferença retórica
, oautor comparaasdiferenças
do brasileiro e do americano na maneira de apresentar e
encarar dificuldades e fracassos. Acidentes comasForças
Armadas envolvendo amorte de civis emilitares e outras
trágicas trapalhadas, lembra Calligaris, são revelados e
investigadospornossosprimosdonortenaconfiançadeque
errosemalandragensvenhamaser corrigidos.Odesastre,
a estupidez e a corrupção, pormais que sejamfrequentes,
nunca são apresentados comomanifestações específicas
dos estadunidenses. JánoBrasil ocorreo inverso: os even-
tosmais sinistros funcionam, emúltima instância, como
prova da “essência bichada” do brasileiro, o que nos faz
duvidar dequesejamos capazesdemodificar essesmales.
ParaCalligaris, essadiferençapodeser explicadapeloviés
religioso (protestantismoxcatolicismo), ouaindapelo fato
deos americanos, comopromotores dapós-modernidade
globalizada, saberemqueémelhordissociar-sedoquenão
dá certo. Mas aqui a explicação é o quemenos importa. A
questãoé:queremoscontinuarinspirandoapenasocarinho
e a simpatiade todos ouvamosmudar o tomda conversa?
Para avançar na reflexão sobre o lugar que queremos
ocupar no mundo, um grupo marcado pela diversidade
de saberes reuniu-se emParaty (RJ), entre os dias 20 e 22
demarço, para a primeira edição do Refletir Brasil
diá-
logo sobre a brasilidade. Organizado pelo coletivo Oca
Brasil, o evento contou coma participação de Domenico
DeMasi, do antropólogoMassimoCanevacci e do econo-
mista, acadêmicoeescritor LadislauDowbor. Ainiciativa,
que teveoapoioacadêmicodaESPMeopatrocíniode Itaú
Unibanco, Itaipu e Sebrae, apresentou discussões pauta-
daspelos resultadosdeumapesquisasobreos sentidosda
brasilidade.Oencontrogerou tambémummanifestocom
Obra do grafiteiro ThiagoMundano,
especialista emtransformar lixo
emarte, que participouda primeira
edição doRefletir Brasil
diálogo
sobre a brasilidade
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