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Revista da ESPM
| julho/agostode 2013
Globalização
Nossopapel
nopalcodomundo
Potência emergente oumodelo de sociedade
para os outros países? Evento discute a posição
que o Brasil deve ocupar nomundo
Por Isis de Palma, OrianaWhite e Ricardo Zagallo Camargo
H
á quase quatro anos, a revista
The Economist
celebrou o novo
papel doBrasil nopalcomundial. Naocasião, aediçãododia12
de novembro de 2009 da renomada publicação destacou o fato
de opaís deixar de ser apenas o exótico coadjuvante associado
aoCarnaval eao futebol paraser percebidocomoumadaspotênciasemergen-
tes, ao lado de Rússia, China, Índia e África do Sul. Emais: superando esses
países emvários aspectos por não viver conflitos étnicos e religiosos nemter
vizinhos hostis como a Índia, tratar investidores estrangeiros commais res-
peitodo que aRússia e possuir uma política socialmais inteligente que a chi-
nesa. Na reportagem, a revista não deixa de apontar as fraquezas brasileiras,
como mau uso do dinheiro público, problemas na educação, infraestrutura
frágil e criminalidade. Considera, contudo, o saldo positivo e a “decolagem”
admirável conseguida pormeio de uma reforma democrática e de consenso.
Tal celebraçãomerece, contudo, umolhar cuidadoso.
Emprimeiro lugar, nãopareceprudenteendossaravisãodoCristoRedentor
decolandodoCorcovado,quefoiestampadanacapadarevista.Juntocomaima-
gemestavao título “
Brasil takes off
”, evocandoos estágiosdedesenvolvimento
propostosnadécadade1960,peloprofessorWaltW.Rostow,paraquemassocie-
dades tradicionais e atrasadas precisariamde precondições para omomento
do arranque (
take off
), e depois marchariam para a maturidade e o consumo
de massas. A concepção que subsidia a ideia atual de países “emergentes” foi
rechaçadaporPaul BaraneErick J.Hobsbawm, noartigo
The stages of economic
growth
, publicadona
International Review for Social Sciences
, em1961. Os auto-
res não consideramo setor “atrasado” como uma etapa anterior ao segmento
“desenvolvido”,mascomodoissistemascontemporâneose interdependentes.
Ou seja, os países desenvolvidos só existempor conta dos subdesenvolvidos.
Emsegundo lugar, porque opapel doBrasil nãodeve ser definidopelos cri-
térios dos países centrais, sempre associados àmanutenção de posições no
cenáriomundial. Tal conclusãofica clara na reportagemde 2011, do tabloide
inglês
Daily News
, que, diante da previsão de que o Brasil tiraria do Reino
Unidoopostode sextaeconomiadomundo, nãohesitaemafirmar queopaís,
comseus vastos recursos naturais e classemédia emascensão, “nãodeve ser
consideradoumcompetidor pelahegemonia global,mas umvastomercadoa
ser explorado”. Ou seja, a forma como a economia global está organizada nos