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Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2013
118
Rudge (69º); Chata de Galocha (93º) e Glam4you (94º).
Os
posts
estudados foram selecionados aleatoriamente
entre os publicados no segundo semestre de 2012, até a
primeira semana de dezembro.
Nosso objetivo foi analisar o discurso de consumi-
doras brasileiras em blogs de beleza, cuja pauta inclui
o tema maquiagem ou se dedica exclusivamente a ele,
procurando identificar especialmente como esse público
compreende e reproduz as estratégias domercado. Foram
consideradas consumidoras não apenas as seguidoras
dosblogs,mas tambémsuaspróprias autoras, julgando-se
que são lançadoras de tendências e, como formadoras de
opinião sobre o assunto, contribuem para a construção
desse discurso. Levamos em conta na análise o pres-
suposto de Norman Fairclough, um dos fundadores da
análise crítica do discurso (ACD). Segundo o autor de
Discurso e mudança social
(Editora UNB, 2008 — tradu-
ção de
Discourse and social change
, de 1992), o discurso
“enfatiza a interação entre falante e receptor ou entre
escritor e leitor; portanto, entre processos de produção
e interpretação da fala e da escrita, como tambémo con-
texto situacional do uso linguístico”. Ainda combase em
Fairclough, o foco da presente análise está na linguagem
e não em outras formas simbólicas, como as imagens.
A análise desse material nos traz indícios especial-
mente sobre a relação entre as blogueiras e suas segui-
doras e tambémentre esses dois perfis de consumidoras
e amaquiagemcomo categoria de produto. Evidencia-se,
entre outros aspectos, um discurso bastante informal
nessa comunicação, como se reproduzisse o tom de
conversas entre amigas que mantêm contato frequente
e dividem questões do cotidiano. O texto escrito, nesse
caso, segue o estilo e o ritmo da palavra falada. Inferimos
que essa é uma tentativa das interlocutoras de se apro-
ximarem entre si, buscando estabelecer inclusive uma
relação emocional.
Prevalece nas conversas observadas um texto com
estilo juvenil e traços bastante femininos, com o uso
de muitas palavras no diminutivo como “bonitinho”,
“brilhinho” e “lindinha”, bem como gírias e a inclusão
de “carinhas” próprias da linguagemdigital, usadas para
denotar emoção,como : ), :/ e =X.
Analisar estas conversas pode ser uma alternativa às
pesquisas presenciais em grupo, nas quais os consumi-
dores podem se sentir obrigados a dar respostas social-
mente aceitas. A liberdade de conversação e a intimidade
estabelecida entre blogueiras e leitoras dificilmentepode
ser reproduzida em ambientes artificiais.
Superlativos são bastante presentes, depreendendo-se
que isso está relacionado à mobilização em torno do as-
sunto, já que, nesses blogs, a maquiagem é tratada como
umaquestãocentral na rotinadasmulheres. Apaixonadas
peloassunto, se revelam
heavy users
dessesprodutos, enão
iniciantes em busca de informações introdutórias.
Parece existir certa cumplicidade entre elas, que se
referem a situações, dúvidas e problemas mobilizando o
grupocomoumtodo.Nessesentido,nota-sequeessessites
produzem (ou tentam produzir) um boca a boca sobre os
produtos, nãosendoexclusivamenteuma formadeendos-
so,mas umespaçopara as usuárias obtereminformações
e até de exibirem seu conhecimento sobre o tema.
As consumidoras discutem sobre maquiagem com
envolvimento e, muitas delas, com propriedade, como se
fossem(e algumas delas são) especialistas. Não apenas as
blogueiras, como também algumas seguidoras, demons-
2Beauty,dablogueiraMarinaSmith,faztantosucessona
internetquecontaatécomopatrocíniodaSephora
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