entrevista | Romero Rodrigues
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2013
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Arnaldo
—
O Buscapé nasceu em 1998
e lá se vão 15 anos. Vocês são pratica-
mente os “avós” da internet brasileira.
Quais são as diferenças essenciais da
indústria daqueles tempos em relação
ao que se passa hoje?
Romero
— Somos os dinossauros da
internet (risos). Eu vejo os dez anos
iniciais como um período em que
talvez a palavra-chave tenha sido o
acesso à informação e, consequente-
mente, um aumento do poder do con-
sumidor, do cidadão, do colaborador,
do estudante, do paciente que chega à
consulta sabendo mais dos sintomas
que o próprio médico. Foi um período
enriquecedor. Muitos paradigmas
foramquebrados. De 2009 para cá, ou-
tros dois fenômenos aconteceram. O
primeiro é todo esse ambiente social,
em que você torna o seu conteúdo
disponível e passa a socializá-lo. A
interseção desse conteúdo social com
a informação é onde se presume que
exista maior valor. Emparalelo a isso,
há também a mobilidade trazida pelo
smartphone
. Acredito que a combi-
nação do social, da informação e da
mobilidade é o que agregará maior
valor. Em1999, a Telesp Celular (atual
Vivo) procurava aplicativos que fos-
sem matadores para o novo serviço
deles, oWap, umsistema de texto pior
do que uma mensagem de SMS hoje.
Nós fomos o primeiro serviço no ar
deles. Criamos até um portal de voz,
em que você ouvia as comparações e
podia acessar diretamente o serviço
de televendas da loja. O problema é
que ninguém usou. Isso mostra que
houve um processo longo no amadu-
recimento domercado.
Arnaldo
—
E como foi a evolução do
negócio nestas diferentes etapas?
Romero
— Quando o Buscapé co-
meçou, a ideia original não era
capturar preços na internet, porque
naquele momento havíamos identi-
ficado só quatro lojas que vendiam
on-line. Nosso modelo era um sof-
tware, que venderíamos em dis-
quete na banca de jornal. Qualquer
lojista instalava o programa no seu
computador, o sistema procurava
e indexava os preços e depois se
conectava a ummodem para passar,
via BBS (sistema de transmissão de
dados por telefonia, precursor da
internet), todos os números ao nos-
so banco de dados. Era um projeto
para lojas de rua. Como bons enge-
nheiros e péssimos profissionais de
marketing que éramos, resolvemos
testar o software antes de estudar
o mercado. Com o programa quase
pronto, começamos a conversar
com alguns varejistas de bairro e
ninguém entendia o projeto.
Arnaldo
—
O produto não estava ade-
quado ao mercado?
Romero
— Eles diziam: “Eu vou colo-
car umprograma nomeu computador
e jogar os preços nessa tal de internet,
aquele negócio que a gente paga por
minuto? E tudo isso para comparar
preço com o meu competidor? Eu
não faço isso nem por telefone!”. Os
lojistas riam da nossa cara, achavam
que era trote. Oprojetomorreu e só re-
nasceu quando surgiu a ideia de cap-
turarmos os preços que já estavam
on-line. Ainda assim, acreditávamos
que a tática era só um gatilho inicial
para vender o nosso software. Umano
Existeumambiente social, emquevocê torna
oseuconteúdodisponível epassaasocializá-lo.
Ainterseçãodoconteúdosocial coma informação
éonde sepresumequeexistamaiorvalor