março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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diferente do cotidiano laboral, cuja rotina dificilmente
inclui a dimensão da arte e da ficção. Mesmo e por cau-
sa da dimensão ficcional é que os segmentos de uma
empresa podem conhecer ou reconhecer o pensamento
de seus colaboradores, de maneira não convencional. É
necessário que o projeto não receba censura da parte do
departamento de recursos humanos, nem da diretoria,
e que o grupo, comprometido com a organização, não
fomente situações idealizadas ou irreais e evite encena-
ções onerosas ou com um olhar comercial. Para tanto o
papel do diretor do grupo é importante. O objetivo não é
formar um grupo nos moldes de um teatro profissional,
e sim trabalhar, nesse novo espaço, questões relevantes
para todos os setores da empresa.
Sabemos que os colaboradores se expressam, normal-
mente, pormeio daRádio Peão,mas a ideia é poetizar, cri-
ticamente, acomunicaçãoe torná-lapúblicae socializada.
Podemsurgir conflitos que ajudarãoa construir pontesde
discussãoecomunicaçãoentreadiretoria, chefias, diretor
do grupo, o próprio grupo e a empresa emgeral. Oamparo
ideológico e filosófico que receber do departamento de
recursos humanos e dos líderes da empresa poderá con-
tribuir comacontinuidade, ocrescimento, oacessoaberto
dos colaboradores e consolidação de umprojeto.
O teatro empresarial pode funcionar muito bem como
uma ferramenta e um meio de vincular informações e
mobilizar conteúdos individuais e coletivos significati-
vos. Transforma-se numa forma valiosa de comunicação
internae,envolvendoospróprioscolaboradores,tendease
espalharpor outrasáreasde interesse ligadasaodesenvol-
vimento: treinamentos, ações teatraisparacolaborar com
campanhas internas nos espaços comuns da companhia,
encenações divulgando lançamentos de produtos, parti-
cipação em ações sociais etc.
O cenário da subjetividade
Esse tipo de projeto costuma valorizar a autoria dos cola-
boradores, sua desenvoltura e desinibição, criatividade e
fluência, a partilha de conteúdos (ideias e sentimentos)
dos atores com os espectadores e os momentos de lazer
e reflexão nos horários criados para esse fim. Criam-se
espaços alternativos de expressão subjetiva, seja nos
palcos formais ou em espaços não formais dentro da
empresa, como corredores, elevadores, portarias.
O uso do teatro pode servir para integrar as funções
emocionaise racionaisdosujeito, tornando-omenos frag-
mentado, o que lhe possibilita agir, trabalhar e conviver
de formamais genuína no ambiente de trabalho. O teatro
pode ser considerado como um aporte ao pragmatismo
da empresa que vive de resultados, técnicas, produtos
e negócios, aliados, hoje em dia, mais do que nunca,
à criação de um espaço de satisfação e ampliação das
competências, habilidades e saberes. Nesse cenário, po-
demos considerar que, de certa forma, o reconhecimento
e a ampliação da subjetividade são essenciais para as
organizações. A inclusãoprogressiva da subjetividade na
dimensão do trabalho pode representar, para a empresa,
um estado permanente de consolidação de princípios e
práticas, novas indagações e inovações.
Os efeitos que os espetáculos produzem nos atores,
espectadores e na própria empresa podem contribuir
para o amadurecimento de todos, melhorando o clima
de trabalho, as inter-relações e a prática de valores hu-
manistas dentro e fora da corporação.
É por isso que Maria Lucia Pupo, docente do curso de
Teatro-Educação na Universidade de São Paulo, afirma:
“O fazer teatral deixa de ser encarado de modo restrito
ao espetacular, passando a ser pensado em termos das
contribuições que oferece para o desenvolvimento do
ser humano, segundo valores tais como a abertura da
experiência, ou o trabalho coletivo, por exemplo”.
Leslie Marko
Diretora e teatro-educadora, mestre em teoria e prática
teatral pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), e doutoranda na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH),
da Universidade de São Paulo (USP). É professora dos
cursos de Administração e Relações Internacionais da ESPM
Ação teatral de trupede
clowns
que realizaperformances
nosespaços internosdacompanhia. Asaçõesbuscam,
pormeiodohumor eda ludicidade, contribuir coma
conscientizaçãodevaloreséticosdeconvivênciaemaior
percepçãodo”outro” (colegas, clientes, chefias)