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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
/
F E V E R E I R O
D E
2006
CHRIS
– Isso mesmo, antropo-
mórfico. E também algo que nin-
guémmaisprojetou.Nosso trabalho
tem a ver comoutros segmentos de
mercado não atendidos. Nos Es-
tados Unidos – como a mídia – as
grandes corporações tendem a ter
uma ideologia conservadora. Nós
queremos mostrar que podemos
liberalizar a tecnologia, com mo-
delos que não sirvam apenas ao
establishment.
JR
–Na sua palestra, você também
mencionou que o projeto do MIT,
deconsciência total da informação,
começou porque – inconformados
com o fato de o governo norte-
americano investigar a vida dos
cidadãos – vocês inverteram a
situação e criaram um projeto que
investigaria,por suavez,ogoverno:
o
OpenGovernment Information.
CHRIS
– Sim, e nos perguntamos
se não seríamos presos pelo FBI,
porcausadisso; senãoconfiscariam
o nosso servidor...
JR
– Nos últimos anos, o mundo
parece caminhar muito mais para
o “1984”, de George Orwell, do
que para um fortalecimento do
indivíduo.
CHRIS
– Os indivíduos são mais
fracos. Nos próximos 10 anos,
serão do interesse maior das
grandesempresas–principalmente
as que servem o governo – as
questões sobre propriedade inte-
lectual, direitos sobre compar-
tilhamento de arquivos etc.,
coisas que estamos analisando.
Muita gente, aqui no Brasil, e em
outras partes do mundo,
compartilha informações através
de
software
. Isso passa a ser ma-
nipulado, muda de mãos, é
inserido – técnica e legalmente –
em outras economias. Isso levou
o presidente Clinton a assinar o
Digital Millennium Copyright Act
,
emoutubrode1998. AfetouaOIT
e outras organizações cujo traba-
lho visa reforçar a propriedade
intelectual. Quem sabe onde
iremos parar? Mas este foi o mo-
delo que usamos para criar cons-
ciência sobreogovernoeodireito
à informação.
JR
– Foi feito e lançado pelo
MIT?
CHRIS
– Sim.Mas logo tivemos de
retirá-lodomercado, porpressãodo
governo. Chamou-se, justamente,
Consciência Total da Informação.
Foi muito bem aceito, e mesmo os
professoresmais conservadores não
tiveram como criticá-lo. Nós
havíamos obtido informações
importantes, dopontodevista legal.
Mas não dormi, por meses a fio. Se
o governo quisesse acabar com ele,
poderia, na verdade, tê-lo feito a
qualquer momento, com relativa
facilidade. Para contornar isso,
começamos a trabalhar com um
modelo do tipo
peer to peer
.
JR
– Como?
CHRIS
– É como amaior parte do
compartilhamentodedadosocorre
hoje emdia. As informações ficam
emmãos de diversos usuários, em
servidores localizados em vários
países do mundo – um na Suécia,
outro na Venezuela, Austrália etc.
Torna-se, então, difícil para qual-
quer governo – individualmente –
causarproblemas.Temosdeprestar
atenção à precisão das infor-
mações, pois imagine que alguém
na Austrália, que não goste dos
Estados Unidos, possa alterar as
informações em seu computador.
No sistema
peer topeer
, hácópias,
simultaneamente, em muitos
lugares de uma só vez. Assim, as
pessoas percebem logo as adul-
terações, pois um dos compu-
tadores teria dados diferentes dos
outros nove. Chegamos a um siste-
ma bem interessante – elaborado
poroutraequipedoMIT–chamado
Mente Aberta (
Open Mind
). Basi-
camente, visava criar um sistema
artificial capaz de amealhar infor-
mações de todas as partes do
mundo. Do tipo da Wikipedia,
você conhece, não?
JR
– Claro. Este foi também um
projeto doMIT?
CHRIS
– Sim. Wikipedia é um
programa de inteligência artificial.
Masoproblemaéqueosdadosnela
contidos nem sempre são confiá-
veis. Às vezes não passam de opi-
niões. Nesse sistema, todas as pes-
soas no mundo podem contribuir.
Precisávamos de uma idéia, algo
quepudesse serdigitadono sistema
de inteligência artificial. Alguém
sugeria um tema: terrorismo, por
exemplo. Apareciam logo 50 defi-
nições diferentes de terrorismo,
oriundas de todo omundo. Alguém
“VOCÊFAZAVIDADOSCONSUMIDORESTÃO
SIMPLESAOPONTODESERREALMENTEESTÚPIDA.”