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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
/
F E V E R E I R O
D E
2006
CHRIS
– Parte do problema talvez
seja porque tentamos entender a
nós próprios através de analogias
comos computadores. Pode ser um
grande engano. Na França do séc.
XIX, houve pessoas que desenvol-
veram autômatos que replicavam
a maneira como os cães funcio-
navam, como ingeriam alimentos,
por exemplo – e convenciam-se de
que os seres humanos tinhamme-
canismos similares. Esse tipo de
limitação de pensamento existe até
hoje, em relaçãoaos computadores
e à inteligência artificial.
JR
– Qual será a etapa seguinte?
CHRIS
– Certamente, a biologia.
Não necessariamente da maneira
como estão fazendo pesquisa bio-
lógica, hoje, já que não é a única
disponível – mas porque há muito
dinheiro convergindo para essa
área. Sevocêconversarcom físicos,
matemáticos, programadores, estão
todos deprimidos. Mas os biólogos
logo convidam você para beber
Moët Chandon... uma loucura. E
mais louco ainda é que os biólogos
estão com essa bola toda porque
começaramapensar comocompu-
tadores. Tudo deles é sobre infor-
mações, informática,modelos esta-
tísticos sobreoDNA.Pessoalmente,
nãocreioqueessas idéias vão levar
a um melhor entendimento de
como funciona o pensamento hu-
mano – ou coisas aindamais com-
plicadas, como as emoções.
JR
– Você está tratando de com-
portamentodoconsumidor, tomada
de decisões – algo que ensinamos
aqui.
CHRIS
–Há algo de errado com a
definição de racionalidade, de
como as pessoas tomam decisões.
Se você perguntar a alguém como
tomou suas decisões nos últimos 3
ou 4 anos, dir-lhe-á que foi com
base nesta ou naquela informação.
De verdade, as escolhas foram ba-
seadas em coisas inteiramentedife-
rentes, queos cientistas estãoainda
por descobrir. Nisso, sou diferente
de muitos colegas no MIT, que
acham, mesmo, que pessoas pen-
sam como computadores.
JR
–Oquevocêestádizendopode
ser consideradopós-moderno.
CHRIS
– Não me considero exa-
tamente pós-modernista, mas con-
cordo com um filósofo francês,
BrunoLatour,queescreveuum livro
paradizer quenósnunca fomos, de
fato, modernos. Ele diz que a mo-
dernidade foi uma tentativa de
afirmar que existimos racional-
mente. Com isso, dividimos omun-
do em dois: o natural e o social. Se
você perguntar sobre a causa do
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