Mesa-
Redonda
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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
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F E V E R E I R O
D E
2006
não recebo mais; quero um pensa-
mento. Nós temos umamissão, que
pode ser aumentar as vendas de
determinado produto, lançar um
produto novo etc. Qual é o pen-
samento da agência sobre como
vamos executar nossa missão?
JR
– Que tipo de profissional pre-
cisamos ter para enfrentar tudo isso?
PIRATININGA
– Como uma es-
cola superior depropagandaemar-
keting – dentre outras coisas – que
sempre foi referência, esteve na
vanguarda, pode adaptar-se a esses
novos tempos?
JOSÉ FRANCISCO
– Acho que a
Escola tem um papel fundamental
nisso,por tudoqueelarepresentahoje
no país, pela sua origem e
competência. Ela tem um desafio
fantástico de tornar concreto essa
coisa nebulosa que vemos pela
frente, seja do ponto de vista dos
canais de comunicação, seja do
ponto de vista das pessoas que vão
absorveressacomunicação.Ascoisas
não sãomais asmesmas, mas ainda
estão muito tímidas em relação às
mudanças. E a Escola tem de estar
um passo à frente. As soluções não
serão únicas. Há a necessidade de
juntarcabeçaspensantesparadiscutir
isso com a profundidade que isso
merece. Não ver a coisa apenas
como resultado de curto prazo,
porqueesseéumprocessoevolutivo
e que nãopáramais. E a Escola tem
a obrigação de estar à frente.
MÁRIO
– A escola precisa ensinar
as pessoas apensar.Quando estudei
Direito, a primeira matéria foi
FilosofiadoDireito, antes de estudar
Advocacia. Acho que a escola
precisa criar cadeiras de filosofia,
filosofia de comunicação – estudar
a ética, direitos do consumidor,
cidadania, política, história, an-
tropologia. Jovens vêm para cá
querendo fazer anúncios e ganhar
prêmios em Cannes. Isso é ótimo.
Adoroessesprêmios–ganhamos três
esta semana. Recebi um
e-mail
de
uma agência dizendo: “Parabéns.
Vocês nãoparamde ganhar prêmio.
Pena que nenhum seja na área de
criação”. Respondi: muito obrigado.
Metade da culpa é sua.
FÁTIMA
– Esse novo profissional
deve sair de uma escola como essa.
Acho que vou na linha da formação
básica, no sentido de fazer com que
esse aluno saia daqui com as téc-
nicas funcionais mas, também, com
uma visãomais geral destepaís –de
suacomplexidadeediversidade.Das
suas alternativas – não só de
consumo, mas também políticas,
culturais, aos seus direitos de
consumo,sexuaisesobretudoosseus
preconceitos. Tudo que significa
regressão neste país está no mesmo
saco – o do preconceito. Achar que
a classe A se comporta assim como
consumidor e a classe D tem um
comportamento oposto. Não exibir
anúncios que retratem alguém com
papel contemporâneo; vamos con-
tinuar com aquela menina loirinha,
bonitinha, porque o consumidor
gosta. Ou seja, o aluno que consiga
olhar para essa verdade com
realismo. E ver com realismo não é
só ver tragédias e mazelas, mas ver
os avanços, inovação e renovação.
Pediria que esse aluno saísse um
aluno crítico – lesse jornal, livro,
fizesse as coisas tradicionais que
possam dar a ele uma visão mais
sofisticadadomundoeperceber por
queascoisasestãosedesmanchando
no ar.
FÁBIOMARIANO
– Acho que o
mercado pede, urgentemente, um
profissional originalmente de co-
municação. O que vejo é que, nas
últimas décadas, formamos pu-
blicitários, profissionais de marke-
ting, pesquisa e não profissionais de
comunicação. Estamos falando que
o consumidor é, na verdade, um ser
humano e o meio é a mensagem.
Os saquinhos com produtos Nestlé,
no avião, também sãomídia. Sóque
estamos formando, ainda, profis-
sionais departamentalizados, que
estão pensando amídia demassa, a
mídia segmentada, a alternativa, a
promoção,comosenãohouvesseum
ser humano integrando tudo. Essa
formaçãoproposta,maishumanística,
crítica, é justamente para formar um
gestor de comunicação, não esse
trainee
que está entrando nas
empresas, hoje, preocupado com a
ética protestante e a simbologia do
sucesso – em um ano, será gerente
júnior; em dois, gerente sênior; em
cincoumdiretor jovem e com parti-
cipação nos lucros da empresa,
cuidandoda suaprevidênciaprivada
e uma vida bem-sucedida. E a vida
“UMESTUDOFEITOPELALEOBURNETT,NOMUNDO
INTEIRO,MOSTROUQUE68%DOSCOMERCIAIS
PRODUZIDOSNÃOFUNCIONAM.”