Janeiro_2006 - page 95

Christopher
Csikszentmihalyi
111
J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
escreveu: George Bush é um ter-
rorista, pois bombardeia civis do
Iraque. Muita gente não gostou. A
palavra
terrorismo
poderia ter sig-
nificadosdiferentes.Porexemplo: se
90% domundo pensar queGeorge
Bush é um terrorista, isto afetará os
negócios, assim como a maneira
pela qual aCIA se comunicará com
outros sistemas de inteligência;
além de ter um efeito sobre a vida
de George Bush, se vai viajar ou
não, para onde. Tudo importa. Se
você forumcolaboradordo
software
e decidir limitar o conteúdo in-
formativo, cercear, terá problemas.
Mas, infelizmente, foi o que o
governonorte-americano tomoupor
base, como modelo.
JR
– Isso tem a ver até com a
questão da lingüística.
CHRIS
– Sim. No dizer de Noam
Chomsky: “A língua que usamos
(o inglês) é um dialeto armado”.
JR
– Duas perguntas rápidas:
você é engenheiro?
CHRIS
– Não, sou artista.
Imagino que você tenha pensado:
“Se faz projetos, só pode ser
engenheiro”.
JR
– Issoé importanteparaumpaís
como o nosso. Os brasileiros, em
geral, acham que não gostam de
matemática. Não cultivam o espí-
rito científico. Você, então, era
engenheiroevirouartista, criador...
CHRIS
– Não, foi o inverso.
JR
– Como é que se passa de um
lado ao outro?
CHRIS
– A criança de 9 anos
que eu fui ficaria brava, se me
ouvisse dizer o que vou dizer:
“Se realmente tivesse aprendido
mais matemática na escola!”
Estou em desvantagem em rela-
ção a muitos de meus alunos.
Em meu grupo de pesquisa,
tentei criar um sistema onde
houvesse equilíbrio de gênero,
50%-50%, bem como da for-
mação anterior dos seus mem-
bros. E, exceto no caso de artista
matriculado no programa de
pós-graduação, exijo que se
aprenda algum tipo de pro-
gramação, engenharia, eletrô-
nica, mecânica etc. Aceito
engenheiros, de preferência que
tenham feito algum estudo artís-
tico, talvez com boa formação
musical – ou que tenham feito
instalações, trabalhado com es-
cultura. Em dois anos não dá
para aprender a fazer tudo. Eles
têm de ter vivência anterior em
campos opostos ao de sua
predileção. Os engenheiros fre-
qüentemente têm de aprender
como relaxar mais, pensar mais
espontaneamente. A pesquisa,
em nosso grupo, exige que se-
jamos rápidos, pois o que está
acontecendo na sociedade – em
projetos, tecnologia, onde tudo
é novo – tudo pode mudar em
meses! Já os artistas, seu tendão
de Aquiles é a matemática. Mas
este é o cerne da questão. Tec-
nologia é poder sob forma ma-
terial. Na minha palestra, fiz a
analogia com a porta que se
fecha automaticamente e influ-
encia todo um ambiente de
trabalho. Controle de mídia e
tecnologia é ter poder nas mãos.
JR
– A matemática pode ser,
também, muito bela...
CHRIS
– Eu não nasci para isso.
Mas estou sempre curioso de
saber como usar minha arte.
Gosto de tecnologias que sejam
poéticas, não somente as que
têm aplicações para a produ-
tividade. Como conseguir isto?
Numa aula de
design
, todo
mundo usa Photoshop, mas as
pinturas do século XIX não
trabalhavam com
bits
. Faziam-
se experiências químicas. Para
ser um artista visual ou pro-
jetista, você pode usar elemen-
tos mais básicos e atuais: os
softwares
. Há que prestar aten-
ção para ver se é mesmo um
trabalho de criação, ou se não
passa demero uso de Photoshop,
por exemplo. O mesmo vale
para amúsica. Eu sei quando um
aluno trabalha bem ou mal. Para
fazer algo realmente poderoso,
você tem de não usar só o que
existe e está disponibilizado,
mas tem de migrar para as
tecnologias de agora, tentar se
nivelar. Haverá muitos novos
materiais, por exemplo, que
poderão ser usados nas es-
colas de arte brasileiras. Isso
é parte do encontro entre tec-
nologia e arte.
“ACEITOENGENHEIROS,MASQUETENHAM
FEITOALGUMESTUDOARTÍSTICO.”
ES
PM
1...,85,86,87,88,89,90,91,92,93,94 96,97,98,99,100,101,102,103,104,105,...112
Powered by FlippingBook