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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
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F E V E R E I R O
D E
2006
que não. Mas, se você observar o
modelo francês, os engenheiros
civis no setor de serviços, quase
todos, trabalham para o governo.
Através da tecnologia, a França
constrói e reconstrói a sua
“grandeur”. Mas, de algummodo,
nos EstadosUnidos – após a guerra
doVietnam e durante a guerra fria
– tornou-se importante para os
americanos dizer que tudo o que
faziam era apenas seguir proto-
colos. Assim a arte dominante era
de expressão abstrata, a música
predominante era JohnCage. Nada
político, nada engajado, tudo
supostamente moderno e descom-
promissado. Poucas pessoas sabem
que aCIA financiouo expressionis-
mo abstrato – isso só foi revelado
há poucos anos. O pessoal do
governo dizia: se as pessoas
pensarem que trabalham para a
indústriadearmamentos, aquestão
é política. Então, melhor afrouxar
e dizer-lhes que o que realmente
fazem é pesquisar coisas abstratas,
e não haverá mais problema. Mas
quem estava por dentro sabia que
80% das verbas doMIT vinham do
governo, sendo 40 a 50% do
departamento de defesa. Como
pode isso não ser político? Toda a
pesquisa está voltada ao poder do
estado norte-americano. Mas
ninguém no MIT admitirá, talvez
com a exceção de duas pessoas:
eu eoNoamChomsky.Adiferença
é que o Chomsky temmais de 10
anos de casa, e eu não sei quanto
tempovoudurar...Claroqueonosso
trabalho é ideológico. Tanto assim
que – face aos constrangimentos
governamentais – tivemos de criar
uma – digamos – “contra-tecno-
logia”. Nós desenvolvemos tecno-
logias que talvez não cheguem ao
mercado, mas – pelo simples fato
de existir – cumprem sua função,
revelando aspectos políticos ou
ideologias alternativas. Muita
gente esquece que jogos de
computador são ideológicos. As
pessoas são treinadas para tor-
narem-se “trabalhadores do co-
nhecimento”, pesquisadores da
economiada informação.Trabalhar
em computadores, solucionando
problemas, por longos períodos de
tempo, é um exemplo de tecno-
logia ideológica. As pessoas não
verão o resultado, talvez, antes de
50 ou 100 anos, provavelmente.
Mas essa tecnologia, essa cria-
tividade, que fazem um jovem
sentar-se à frente de um monitor
ligado durante 40 horas, sema-
nalmente, isto não acontecia há 4
anos atrás. Hoje as pessoas tra-
balham e divertem-se com o com-
putador – ele tornou-se parte corri-
queira de suas vidas – da mesma
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