Janeiro_2006 - page 85

Mídia do
futuro
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J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
das pessoas e a da própria empresa?
Por isso, precisamos formar gestores
de comunicação, de fato.
PIRATININGA
– Será que, se for-
marmos esse humanista que todos
pedem – e que eu também gostaria
que fosse–, representamos realmente
o que omercado precisa? Será que
essegaroto, que sair daqui, comesse
pensamentohumanístico,nãovai ser
repelido pelo mercado que está
exigindo que ele seja tecnocrata?
JOSÉ FRANCISCO
– Se ele gerar
resultados produtivos e úteis não
tenho dúvida de que terá sucesso.
MÁRIO
– Também acredito que
não. Queria acrescentar uma coi-
sa: estão desaparecendo as pro-
teções. Antigamente, um anun-
ciante recebia uma campanha de
uma agência, aprovava e a cam-
panha era veiculada lá fora. Entre o
anunciante e o fenômeno, havia
várias proteções. Outro dia, fui a
Curitiba assistir a um jogo, numa
promoçãonossa.Opessoaldoclube
me chamou para ir ao gramado.
Havia 32 mil pessoas e de repente
eu era a Nestlé. O animador da
torcida deu-me o microfone para
que eu falasse para as 32 mil
pessoas; se eles vaiassem, estariam
vaiando a Nestlé. Outro dia, no
sambódromoalguémdisse: “Chamo
aquioDr.MárioCastelardaNestlé”
e eu tive de falar para a Escola de
Samba. Precisamos estar prepara-
dos para viver situações diretas,
assim, onde não existemais o con-
forto de que, quando dá errado, eu
mudo a agência.
JR
– Antes de passar a palavra ao
Gracioso, queria fazer uma observa-
ção sobre essa questão de pessoa:
embora não tenham sido verba-
lizadas, descobriu-seque, nessepro-
cesso da comunicação, existem, de
um lado do receptor, pessoas. Mas
dooutro ladodo transmissor também.
Quando falamos da formação desse
profissional,estamos também falando
depessoasque somosnós.Achoque
isso, de certa forma, representa uma
orientação para o trabalho que nós
educadores dos futuros profissionais
temos de encarar. Gracioso, como
você resumiria nosso trabalho?
GRACIOSO
– O que mais me
impressionou foiaênfasequesedeu,
na discussão, a aspectos que vão
muito além do problema específico
da mídia. Vocês demonstraram
preocupaçõeshumanísticas. Falaram
emantropologia, nonovo sentidoda
pessoa.Achoquenósestamos sendo
mesmo apanhados por um
tsunami
monumental, como disse a Fátima.
Asmudanças sociaisprincipalmente.
Por issoque sedá, agora, destaqueà
antropologia do consumo, que
também estamos começando a
desenvolver aqui na Escola. O
mundomudou, uma mudança que,
de repente, explode e parece que
está acontecendo agora, em termos
sociais. EoBrasil acaba ficandopara
trás, como disse o José Francisco. O
mercado é protegido, um pouco
isolado do resto do mundo. Mas o
queestáacontecendoaqui nãoé tão
difícil de entender – e até de prever
o desenvolvimento – porque já
aconteceu em outros países, na
Europa, nos Estados Unidos: a im-
portância do varejo que reduz a
importância das marcas e, portanto,
reduz a importância da propaganda
persuasiva. Mas parece que não
aprendemos as lições comos outros.
Vamosquereraprenderànossacusta,
e isso é mais difícil. Talvez seja por
issoquehouveumacertadivergência
e falta de consenso entre nós. Todos
estamos sendo apanhados de sur-
presa. A escola, principalmente, tem
um grande papel. Agora, lembrem-
se de que, historicamente, o que as
escolas podem fazer? Elas podem
apresentaremperspectivaoquevem
domercado.Ohomemdomercado
não sepreocupacom isso; estápreo-
cupado com seu problema especí-
fico. Então, cabe às escolas con-
ceituar, demonstrar em perspectiva
e daí tirar novas teorias que subs-
tituam as anteriores. Isso nós iremos
fazer, mas não há dúvida de que
dependemos essencialmente do
desenvolvimento que o mercado
devedefinir.OMárioestavadizendo
o que ele espera da agência quando
a chama para discutir um novo pro-
blema. A verdade é que se a agê-
ncia continuar a não responder, ele
vai deixar de chamá-la e vai chamar
uma consultoria, ou um consultor
independente. Acho que tudo isso é
um caldeirão em ebulição e não
adianta nos preocuparmos demais
com a agência de propaganda. A
agência vai mudar. A agência do fu-
turo talvez seja uma mescla de em-
presário de teatro, consultor de em-
presa e publicitário tradicional. E
repito: não é novo; já está aconte-
cendo em outros países.
JR
–Quero agradecer a todos pela
riqueza do debate e tentar tran-
qüilizá-los a respeito do que diz o
Prof. Gracioso sobre a falta de con-
senso. Na medida em que esses
debates contribuem para aumentar
a inquietudeentreosnossos leitores,
também estão desempenhando
corretamente a sua função.
ES
PM
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