Janeiro_2006 - page 93

Christopher
Csikszentmihalyi
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J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
maneira que, nos anos 50, o
entretenimento consistia em fazer
experimentos químicos e trabalhar
com blocos de montagem. Fazía-
mos experiências químicas; cons-
truíamos edifícios de grande porte
– exatamente como hoje, os jogos
de
videogames
são exemplos que
demonstram que a tecnologia é
sempre ideológica, mostrando a
interseção entre o trabalho e o
conhecimento.
JR
– Isso é instigante...
CHRIS
– São muitos os casos em
que trabalhamos com ideologias.
Outro exemplo: 90% dos enge-
nheiros são homens. Nos Estados
Unidos, 95% dos engenheiros de
software
são do sexo masculino.
Produzem, portanto, tecnologias
que interessam mais aos homens.
Alguns de meus estudantes estão
trabalhando em tecnologias rela-
cionadas a experiências femininas.
Quando esperamos que nossas
tecnologias trabalhem para nós,
como escravas, fazendo o que
queremos, não nos importamos de
onde vieram, apenas as queremos
em nossas casas, trabalhando silen-
ciosamente. As pessoas têm relacio-
namentoscomplicadoscomprodutos,
como se fossem empregados ou
escravos. Mas podem existir outros
modelos utilizando tecnologias, não
tão dominantes. Trazê-la de outras
partes do mundo, sem nenhum
conhecimento prévio de como
funcionaram na origem. Este é outro
tipo de ideologia, que estamos
usandonomeu grupo, noMIT.
JR
–Na sua palestra, você fez uma
comparação interessante entre
produtos de consumo e filmes de
Hollywood.Vocêdisseque amaio-
riadosprodutose serviçosestámais
próxima de Hollywood do que de
um filme “cabeça”...
CHRIS
– Certo. Essa idéia é de um
casal britânico: Fiona Rabbi e Tony
Dunne. Eles dãoauladeprojetos no
Royal College of Art e escreveram
um livro chamado: “Design Noir –
a vida secreta dos objetos
eletrônicos”. Seu argumento é de
que os filmes hollywoodianos são
deliberadamente medíocres, para
levar os adolescentes ao cinema.
Tudo é montado para fazê-los
felizes; mostram, no enredo, um
mundo complicado, mas – no final
– torna-se simples, o
happy end.
Bemdiferentedeum filme “cabeça”
(
filmnoir
) ou amaioriadaprodução
cinematográfica francesa e sul-
americana, que eu conheço.
JR
– E sueco também...
CHRIS
– E até mesmo do norte-
americano independente. Assim, a
questão é: por um lado, você está
servindo a ummercadomuito gran-
de mas, em contrapartida, está tor-
nando a vida dos consumidores in-
crivelmente banal. É você quem faz
a vida dos consumidores assim tão
simples a ponto de ser estúpida?
Torna-os mais parecidos com gado
doqueserespensantes.Nãosepode
discutir coma lógicadodinheirode
Hollywood, a indústria em termos
de lucratividade. É bem-sucedida
porque os filmes usam uma
linguagem simples, podem ser
traduzidos em outros idiomas, sem
exigir sutilezas: não é
à Bergman
,
mas
àSpielberg
.Ograndeproblema
da globalização é: como apresentar
estratégias alternativas? O casal
Rabbi foi esperto: analisaram e se
ativeram somente a um aspecto de
todos os produtos: “Qual é a garan-
tia de um final feliz?” Contraria-
mente aos filmes “
noir”
– que têm
finais complicados – eles pergun-
tam: “Por que levarmos para casa
coisas que compliquem nossas
vidinhas, que nos façam pensar em
vezdenos fazer simplesmentecom-
placentes?”UmalunodosRabbi de-
senvolveu tecnologiasparaprodutos
destinados a pessoas solteiras. Por
exemplo, uma máquina para
praticar tênis. Dispara nas placas e
pode ser usada dentro de um
apartamento. Meu favorito é um
sistema em que você está em sua
cama e, no decurso da noite, amá-
quina puxa seus lençóis auto-
maticamente, devagar – como se
houvesse alguém ao seu lado...
JR
– Isto é bonito, muito antro-
pomórfico...
“POUCASPESSOASSABEM,MASACIAFINANCIOUO
IMPRESSIONISMOABSTRATO.”
“ADMITIRQUEALGUÉMESTÁPREDISPOSTO
GENETICAMENTEAALGONÃOÉPOLITICAMENTECORRETO.”
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