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J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 3 – R E V I
S T A D A E S P M
yw
possívelparaos trabalhadoresepara
asorganizações, emqueoconvívio
se torna intolerável.
As razõesda intolerância sãodevá-
rias ordens. Da ordem do estratégi-
co, da ordemdopsicofísico, do éti-
co.Todas são íntimas , particulares.
Variam de pessoa para pessoa. Os
seus detalhes são cansativos, o seu
conhecimentopoucoútil foradoes-
tritocampodapsicologia.Mas,como
não há exclusão sem inclusão
(Habermas, 2.003), as pessoas que
seencaminharamparao trabalho in-
dividualizado terminarampor formar
uma classe de interesse econômico
importante. Inserem-senas formasde
social parecem não ter onde se asi-
lar.Na sociedadecontemporânea,o
preçoda intolerânciaéo insulamento
sema solidão.
Talcomoacontecenasociedade,há
gente que nãopode suportar a vida
nas organizações, a forma de rela-
çãoquedenominamosdeemprego,
comohágenteaquemas organiza-
ções nãopodem tolerar. Inscritas na
totalidadesocial,asorganizaçõessão
mundos em pontomenor. São gru-
pos de pessoas que compartilham,
voluntariamenteounão, uma inten-
ção comum. Diferem da sociedade
e da comunidade por terem um
objetivoconcretoenãoumpropósi-
to ideal. São universos fechados,
orientados para finalidades específi-
cas.Nasorganizações, comona so-
ciedade,existe tolerânciaeexisteum
limiteparaa tolerância.Mas, àdife-
rença da sociedade, o intolerante e
o intolerado podem retirar-se facil-
mente das organizações. Podem
abster-sedo trabalhoemcomum.
Neste textoprocuramosanalisarsiste-
maticamentea fronteirada tolerân-
cia, o ponto em que a convivência
entreoempregadoeoempregador
nãoémaispossível, emqueaspes-
soasdeixamnãoesseouaqueleem-
prego, mas omundo das organiza-
ções, em que as pessoas não são
mais aceitas.
O temada fronteirada tolerânciaveio
à luznaapreciaçãodedadossecun-
dários das pesquisas quevimos rea-
lizandosobreascondiçõesdesobre-
vivência no trabalho (Cherques,
1999, 2000, 2003).Oqueessesda-
dos evidenciam é que, se as formas
que as pessoas encontram para so-
breviveràspressõesorganizacionais
variamdemuitasmaneiras, também
existem linhas dedemarcaçãoalém
das quais a convivência não émais
OS LIMITESDA TOLERÂNCIA: O TRABALHOSEMO EMPREGO
“Na sociedade
contemporânea,
opreçoda
intolerância
é o insulamento
sema solidão.”
produzirquedispensamasorganiza-
ções tal comoasconhecemosdesde
a primeira Revolução Industrial. En-
tenderas razõesqueas levarama re-
jeitar oua serem rejeitadaspeloem-
prego é essencial para a compreen-
são do quadro geral da economia e
da sociedade que se delineia no fu-
turopróximo.
Ao procurarmos entender os limites
da tolerância, nos deparamos com
um temapouco exploradoda teoria
administrativa.Talvezporqueoassun-
tonão seja agradável, ou,mais pro-
vavelmente, porque o ser humano
perdeu centralidade na gestão con-
temporânea, há muito pouca coisa
escritasobrea intolerânciadasorga-
nizações para com as pessoas e so-
bre a intolerância das pessoas com
as organizações, sobre os intole-
ráveis e os intolerados. Por esse
motivo, nos limitamos aqui a sis-
tematizar e a interpretar as razões
e condições que levam ao estabe-
lecimento das fronteiras de tole-
rância a partir dos dados das pes-
quisas a que nos referimos.
Dividimos a exposição em cinco
partes, em que examinamos: I – o
conceito e os argumentos a favor e
contraa tolerância; II –os limites: –
políticos, III –psicofísicos e IV–éti-
cos da tolerância. Concluímos (V)
com uma apreciação genérica dos
motivos que levam à ruptura entre
os trabalhadoreseosempregadores,
as razõesque levamao trabalhoque
nãoéumemprego.
OQUEÉ
TOLERÂNCIA
Oconceitode tolerância seestende
ao longo da história. Podemos
acompanhá-lo desde a transigência
com a “impiedade” dos descrentes
da
polis
grega, passando pela con-
Tolerância é a aceitaçãode opiniões
e condutas julgadas equivocadas,
falsas ouprejudiciais.Tolerar
–
ensina a raiz latina
tol
,
–
é suportar
o inconveniente, omalquerido, o
rejeitável.Ninguém tolera oque é
bom. Toleramos oudizemos tolerar
ou, ainda, pregamos que se tolere o
que émau, oque é ruim. Toleramos
por interesse, por conveniência, por
devermoral.