Maio_2003 - page 34

O surgimento do homo estheticus – o crescimento domercado da beleza
Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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insatisfaçãosemobjetivodefinido,
umatentativadeencontrarobjetos
na realidade que correspondam
parcialmenteàs imagensfantasia-
das.Portanto,oanseioéumaforça
motriz que faz as pessoas
procurarem produtos ou serviços
de consumo que tenham vínculos
comsuasrepresentações internas.
Como o real não pode propor-
cionar os mesmos prazeres da
imagem fantasiada, só consegue
responderemparteaoprazer,cada
ato de consumo leva a uma certa
desilusão, o que gera novos
anseios de encontrar produtos ou
serviços inovadores.
Da relação fantasia-realidade
surge o gosto, que são as prefe-
rências do sujeito. O gosto é
atravessadopelaéticadaestética
e pelo processo de identificação-
diferenciação em relação aos
outros sujeitos. O consumo iguala
o sujeito a seus pares, além de
discriminá-lo das pessoas de
outrosgrupos.Há, dessamaneira,
Então, o sujeito consumidor
almeja “apaixonar-se” pelo pro-
duto ou serviço, vivendo como se
um “romance”, pois acredita que
o consumo poderá proporcionar
experiênciassensuaisesensoriais
quenãoobtevena realidade. Está
sempre à espera de novidades,
além de estar saturado das
atrações e bens já adquiridos,
almeja ser seduzido, viver de
atração em atração, novas e
diferentes,cadavezmaisatraentes
que as anteriores (BAUMAN,
1999).
O processo auto-ilusivo é
formado pelo
devaneio
ou
fantasia
1
,que instigao
anseio
pelo
objeto e se traduz no
gosto
do
sujeitopeloobjeto, levandoaoato
de consumo. Dessa forma, o
consumo só pode ser compreen-
dido a partir da dinâmica entre a
imaginaçãoearealidadedosujeito
(CAMPBELL, 2001).
A fantasia pode ser
conceituada como “sonhos
diurnos, cenas, episódios,
romances, ficções, que o sujeito
forjaecontaasimesmonoestado
devigília” (LAPLANCHE,2001).Ela
–fantasia–objetivamudançasdos
sentimentos do sujeito e de seus
estados emocionais, tendo a
finalidade de trazer maior
felicidade, aliviar a tristeza, a
frustração e os sentimentos de
desesperança.
Assim, a fantasia pode
funcionar para a realização de
desejos, a satisfação de
necessidades, a regulagem de
estados emocionais que tragam
sofrimento, a geração da certeza
de segurança, a contenção de
emoçõesdesagradáveiseacriação
de aspirações para o futuro
(PERSON, 1997). Tem sua impor-
tância àmedida que propicia que
as pessoas suportem as instabili-
dades e incertezas da atualidade,
através da criação de cenas
prazerosas.
Emborao sujeito contemporâ-
neoconsigadiferenciar a fantasia
da realidade, essa torna-se
convincente por ele imaginar que
o prazer alcançado pela fantasia
podeserconseguidona realidade.
Assim, ele tende à realização de
suas fantasias (CAMPBELL,2001).
A procura de realizar as
fantasias é nomeada de anseio.
Este significa uma permanente
“O
corpo
passaa ser o
depositário de
expectativas e
torna-se fonte de
prazer por estar a
serviço das
emoções do
fantasiar.”
IlustraçãoClubede IlustradoresESPM– LucianaGolcman/5.º semestreCSO
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