Julho_2006 - page 46

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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
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J U N H O
D E
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Respondi quenão. Eele: “Nãoque-
rem fazer um?” Respondi: “não te-
nho poder político para isso”. E ele
brincou: “Mas o Sr. tem autoridade
para propor”. Se tiver, eu ofereço
toda a minha equipe para fazer o
plano de nação para o Brasil, de
graça.Achoquenãoprecisamosdo
Michael Porter para fazer esse pla-
no; podemos fazer aqui. Lembro-
me de que, quando comecei a fa-
zer meu avião, percebi que estava
cercado de Silvas; e o Silva enlata
sardinha, empacota bacalhau, mas
não faz avião. Pensei: precisamos de
uma griffe. Arranjamos, então, um
francês chamado Max Holste que
veio para a Embraer, e era a griffe de
que eu precisava.
JR
–O Sr. está sendomodesto, por-
que é um Silva-com-griffe.
OZIRES
– Eu aceitaria, talvez, mo-
destamente, agora. Mas, no pas-
sado, um Silva era um Silva qual-
quer. Mas, enfim, precisávamos da
griffe e conseguimos. Trouxemos
esse projetista da França, e nosso
projeto ficou imbuídode uma certa
seriedade. Quer dizer que eu acho
que podemos fazer um projeto de
nação, mas se ele tiver uma griffe
como a doMichael Porter, pode ter
certeza de que vai ajudar. E, aqui
na ESPM, estou no lugar certo para
falar em marcas...
JR
– A ESPM é uma griffe, mas tam-
bém estamos nisso há tempo sufi-
ciente para saber que ela vem-se
formando aos poucos – e é resul-
tado de muito trabalho.
OZIRES
– Nos últimos 15 anos –
talvez atémenos – amarca tornou-
se extremamente importante. Nes-
se novo milênio, é vital. Acom-
panho minha mulher ao supermer-
cado e, naquela prateleira imensa,
ela pega um produto e pergunto:
porqueesse?Ela responde: “Porque
é de tal marca”. Insisto: e por que
essamarca? E ela: “Porque fazbons
produtos”.
JR
–O Sr. incluiria a “marca Brasil”
nisso?
OZIRES
– Não.
JR
–Quando há uma Copa doMun-
do, por exemplo, como agora, o Sr.
não temasensaçãodeque temosuma
marca boa internacionalmente?
OZIRES
– De certa forma. O Brasil
aparece no mercado internacional
com características pontuais – com
umanotoriedadeenãoumamarca.
Mas damesmamaneira, por exem-
plo, a atuaçãodoPCC foi noticiada
nomundo todo, também, porque o
Brasil tem essa tradição, na cabeça
das pessoas, de um país inseguro
de terceiro mundo. Não colocaria
no produto que fabrico – um pro-
duto de excelência – a marca Bra-
sil. Por exemplo, numa empresa de
biotecnologia, temos um produto
que aumenta a vascularização san-
güínea, cria possibilidade de rege-
neração textual e celular a um pre-
ço imbatível. Realmente sensacio-
nal. Mas não colocaria, nesse pro-
duto, made in Brazil, porque pas-
saria a ser considerado um produto
exótico para um segmento da
sociedade americana. E o que eu
quero é um produto generalizado,
nos Estados Unidos, que possa ser
comprado pelas pessoas que,
efetivamente, precisamdoproduto.
Na Embraer, decidimos que nossos
aviões não teriam características
brasileiras. Nossos aviões têm catá-
logos, painéis em inglês, porque é
a língua consagrada na aviação
internacional.Achoqueprecisamos
ter esse tipo de percepção. O fute-
bol é ótimo, porque as pessoas pre-
cisam de auto-estima. Mas não
lamentaria que o Brasil perdesse
essa auto-estima, em particular,
paraobter umadiversificaçãomaior.
JR
– Issonos levaaumaquestãodeli-
cada, que é a mudança de com-
portamento, atitude.ComooSr. vis-
lumbra a mudança de compor-
tamento, de atitude donossopovo?
OZIRES
– Sua pergunta leva-me
a outra: por que o Brasil “não deu
certo?”. Por causa, certamente, das
“OBRASILÉUMPAÍSPARAPLÉGICO
PORQUENÃOTEMDIREITA;SÓESQUERDA.”
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