Julho_2006 - page 53

A idade
da razão
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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
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J U N H O
D E
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dustrial trouxe nova velocidade ao
processo e acabou por criar o capi-
talismo atual. Este funciona como
um sistema que se alimenta da
massificação abrindo mercados, e
os mercados consumidores, por
natureza própria se otimizam
estimulando o consumo.
O novo aparece como o agente nú-
mero um desse estímulo, e o mer-
cado nele se apóia ideologicamen-
te. Cria-se a idéiadomoderno como
sempre melhor e desejável: “Mas
como você ainda usa essa coisa
antiquada (feia, ou perigosa, ou de
mau gosto etc.)?”O casamento entre
esse ideárioeo interesse econômico
da indústria dá certo, floresce e cria
umprocessoauto-alimentador–que
funciona atéhoje, equedá aonovo
a aura de verdade maior.
AVISÃODARENOVAÇÃO
PELOCONSUMO
A tese da “destruição cria-
tiva”, expostapelo famoso eco-
nomista Schumpeter, na primei-
ra metade do século passado,
exemplifica como a ciência eco-
nômica, com o pragmatismo que
lhe dá origem, encampou a idéia
do incentivo ao consumo como
base do desenvolvimento dos
negóciose,pordecorrência,de toda
a economia. Valorizou-se o novo
para se justificar a obsolescência
como necessária, e a indústria
passou a produzir coisas menos
duráveis, e até, rapidamente,
descartáveis.
Achamada rodadoconsumocome-
çava assim a funcionar e o faz
muito bem até hoje, pois a tecno-
logia, também se renovando rapida-
mente, justifica não procurarmos,
porexemplo,umamáquina fotográ-
ficaparadurar avida toda, poisdali
aalgunsanososmodelosmais
recentes, certamen-
te, virão com ca-
racterísticas téc-
nicas mais dese-
jáveis.
A filosofia quanti-
tativa, em lugar da
qualitativa, tam-
bém era uma desen-
volvedora do mer-
cado de trabalho –
mais vendas, mais
produção, mais em-
pregos. E com esse
mecanismo simples,
nunca mais a roda do con-
sumo parou e apoiada por teóricos
como Schumpeter, consolida-se a
Valorizou-se o novo para se
justificaraobsolescênciacomo
necessária, ea indústriapassou
aproduzir coisasmenos
duráveis, eaté rapidamente
descartáveis.
)
idéia de que o consumo, incen-
tivado pela inovação, é um fator
não só positivo como quase mi-
lagroso,que, como tempo,nospro-
porcionaria qualidade máxima e
custo mínimo.
ODESENVOLVIMEN-
TODO PROCESSO
OSISTEMAFAZA
CABEÇADASOCIEDADE,
DO “SER”PARAO “TER”
O consumo foi colocado em um
local de honra, e, naturalmente,
buscou-se a justificativa para ele.
Existe um vetor racionalizante nos
processos sociais; assim, os valores
que a sociedade adota, por qual-
quer circunstância, tendem a ga-
nhar uma defesa ideológica para se
institucionalizarem. Dessa forma a
economia do consumo passou a
criar seus heróis e mitos, quase
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