Julho_2006 - page 48

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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
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J U N H O
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conseguiu se sustentar nomercado
internacional por tantos anos. Tem
uma força de trabalho primorosa,
quenãopode ser construídaacurto
prazo. Mas o governo lhe coloca
uma bola de ferro no pé: aVarig é
dona de mais de 1.000 imóveis
extremamente valiosos no país,
mas o governo proíbe que use
economicamente um ativo que é
seu – e diz que não pode colocar
dinheiro público. Quer dizer, ele
fechou todas as portas e depois
disse: “Saia”.
HIRAN
– O Sr. foi amigo do
ComandanteRolim,umhomemque
conseguiu romper um
status quo
em condições iniciais desfavoráveis
– a partir da inovação...
OZIRES
– Quando o Rolim fa-
leceu, a TAM já estava mostrando
sinais de cansaço. O que mostra
uma coisamuito clara, queoPeter
Drucker escreveu no último artigo
que publicou, antes de morrer, e
o título era: “As árvores não
crescem até o oceano”, querendo
dizer que as empresas não têm
uma perspectiva de crescimento
permanente, amenos que – como
ele coloca com sabedoria – se
renovem. AmortedoRolim trouxe
uma renovação para a TAM. Mas
o sistemade transporteaéreomun-
dial não permite o envelhe-
cimento saudável das compa-
nhias. Temos de pensar seriamen-
te nisso, porque transporte aéreo
não é uma
commodity
que se joga
pela janela. Ao contrário, é um
serviço público da mais alta ne-
cessidade, e hoje está intrin-
secamente ligado ao desenvol-
vimento das nações. A Varig é a
nossa melhor marca; não há ne-
nhuma outramarca brasileira com
tamanha penetração no mercado,
nem a Petrobras, por exemplo,
está muito distante... Isso preci-
sava ser preservado, em que pese
a Varig ter um problema corpo-
rativo complicado.
JR
– O seu cartão de visita é de
diretor presidente de uma insti-
tuição de ensino: aOSEC. Como o
Sr. vê essa fase, na sua carreira de
profissional pioneiro, inovador e
criativo?
OZIRES
– O ensino sempre me
empolgou – não do ponto de vista
de ser professor. A educação
brasileira necessita, seriamente, de
inovação. Por exemplo, o nosso
governo atua ilegalmente como
“federal”, quando deveria ser fede-
rativo. Outro dia – em conversa
comopessoal da FGV – soube que
eles não conseguiram abrir deter-
minado curso, porque aguardavam
a aprovação do MEC. E perguntei
amimmesmo: seráqueoMEC tem
alguém com competência para
julgar um currículo apresentado
pelaFGV,ouporoutras instituições?
Absolutamente, não. Pensei na
distinção entre poder e autoridade.
O Ministério da Educação, no
Brasil, tem o poder – a compulsão
de obrigar a fazer – mas não tem
autoridade. Se pudermos fazer
alguma coisa nessa direção: juntar
as universidades e levar ao poder
político a necessidade de sairmos
dessa camisa de força, que nos se-
gura, que dificulta a qualidade do
tipo de instrução, seria um sucesso
extraordinário.
JR
– Mais uma vez o Sr. parece
estar no lugar certo e na hora
certa.
“NOSSOGOVERNOATUA ILEGALMENTECOMO
‘FEDERAL’,QUANDODEVERIASERFEDERATIVO.”
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