Julho_2006 - page 56

José
Predebon
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
quemais recentementedescobriram
a atual força da inovação. Consti-
tuíram-se em verdadeiros profetas,
mas alguns, diferentemente de ou-
tros, comoPeterDrucker, pregavam
um culto exagerado do consumo.
INOVAÇÃOEMUDANÇA
GANHAMDEFENSORES
A par de seu papel no consumo, a
inovação também floresceupor sua
positiva carga de realização pela
defesadamudança.Uma larga cor-
rente de psicólogos, autores de li-
vros de auto-ajuda, desde os con-
sagradamente úteis como o “Auto-
estima” de Nathaniel Branden, até
osmais banais e inúteis, comoexis-
tem às dezenas, todos pregavam a
aceitação da mudança.
A mudança, de acordo com essa
sua defesa, era o movimento, a vi-
da, e a “não mudança” seria a es-
tagnação, que em última análise
significa inanição, morte. Por que
reagir ao novo? Aquela nossa ten-
dência de valorizar a rotina passou
a ser vista como suspeita.
Revendo um texto que eu mesmo
redigi e passei parameus alunos da
disciplina de Inovação e Criati-
vidade, (ver quadro 2) percebo co-
mo todosnós (“meaculpa”) ficamos
enredadosno ideáriodo“novosem-
prepositivo”, eemmaior oumenor
grau, acabamos defendendo de-
mais o culto da inovação.
“Absurdo!” – Essa é a reação comum às no-
vidades que agridem o status quo. Ela explode
apesar de já existir no íntimo, até da pessoa
mais conservadora, a expectativa de que coisas
novas sempre vão aparecer. Quase todo mundo
aprendeuaaceitar amudança linear,aquelaqua-
se previsível, pois é decorrente dos ganhos da
ciência e tecnologia, emais dia, menos dia, elas
surgem em nosso con-
texto. Diremos
que os fa-
tos contidos nessa dinâmica parecem obedecer
a lógica das correntes, ou dos ventos.
Mas, de repente, surge aquilo que parece um
absurdo incrível,equevemcomouma reviravolta
total, pois não obedece à direção do vento nem
a lógica alguma. Penso que esse tipo de
mudança, mais assustador e desconfortável do
que a média, é a mudança contra o vento, e
vemos defender aqui que faz bemànossa saúde
aceitá-la também, da mesma forma que acei-
tamos as chamadas “novidades” da inovação
linear. Cabe primeiro perguntarmos por que sur-
ge essa inovação não linear, classificada como
“disruptiva” por Christensen em seu antológico
livro The Innovators Dilemma. Ele não tenta
explicar,masnossurge tambémapergunta
–por que elanão segue a tendênciado
desenvolvimento considerado até
natural? Existirá algum fator que,
desconhecido,provoquea reação
contrária? E, finalmente, esse
nossopépara trás temalgum
sentido positivo?
Para explorar essas
questões, e nos sentir-
mos, talvez, mais à von-
tadenaanálisedesse tipo
de “inovação violenta”,
vamos começar lem-
brando que as tendên-
cias, ao se confirmar, tornam-se padrões. Estes,
base dos paradigmas, têm sua função útil de
nos fornecer trilhos facilitadores, que evitam
ficarmos constantemente “reinventandoa roda”.
Mas, aqui vem o X da questão, que justifica até
este texto e o tempo investido de quem o lê –
perdemos muito com a obediência cega aos
padrões! Não podemos correr o risco de nos
escravizarmos à lógica do desenvolvimento
exclusivamente previsto e aceito. Isso nos
amarraria, nos traria, nomínimo, atraso e perda
de competitividade.
Freqüentemente a inovação inesperada, no
campo empresarial, propicia ganhos enormes,
ainda que cobre o preço de riscos maiores de
fracasso. Exatamente por isso vemos que as
grandes organizações, impossibilitadas de
assumir riscos devido ao seu tamanho, ultima-
mente, como confessou a Procter, dedicam-se
a procurar e adquirir as inovações criadas pelos
pequenos, que normalmente assumem riscos.
Daí, uma lição para nosso âmbito pessoal: não
nos faz bem recusar o novo, simplesmente
porque nos parece estranhamente diferente. Se
ele tocar simpaticamente nossa intuição, vale a
pena apostar. Só assim seremos os inovadores
que se beneficiammais com a imprevisibilidade
do mundo. São os que não seguem apenas a
direção do vento mais forte”.
“INOVAÇÃOCONTRAOVENTO FAZ BEM
Quadro2
QUADRO 2
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