Ozires
Silva
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
suas atitudes, cultura, compor-
tamento; o que fazemos, que solu-
ções aplicamos diante de um pro-
blema. Tratando de inovação,
minha idéia básica é de que temos
de inovar, inicialmente, trocando
essa cultura. Essa cultura que es-
tamos discutindo aqui, na Embraer,
não existe mais. Ela é uma com-
panhia com objetivos, planos.
Acabamos de lançar agoraumano-
va geração de aviões que o trans-
porte aéreo regional domundo ain-
da não tem. De repente, o mundo
acordou e percebeu que precisava
daquele avião. Tive ótimos exem-
plos na minha vida. Quando
terminamos a linha do Bandeirante,
ficou claro que precisávamos de um
aviãomaismoderno,menos pesado
– na época, não haviamotor a jato
para aviões de pequeno porte e
resolvemos fazeroBrasília.Criamos
um painel, com os compradores de
Bandeirantes e descobrimos que
eles não contribuíam nada para o
desenvolvimento do novo produto.
Se perguntarmos a uma dona-de-
casaque sabãoempóelavaiquerer
daqui a 10 anos, ela não sabe.Mas
quem fabrica o sabão temde saber.
Na minha opinião, ummecanismo
poderoso que temos é essa lideran-
ça inata, queopovobrasileiro con-
cede aopresidenteda república. Se
tivermos um presidente da repú-
blica, que conduza nessa direção,
a coisa acontece.O JuscelinoKubi-
tschek, por exemplo, disse: “preci-
samos desenvolver 50 anos em 5”.
Ele conseguiu. Foi uma determina-
ção pessoal, uma quebra de para-
digma. Gosto muito do Fernando
HenriqueCardoso,eachoqueelepo-
deria ter feito isso, mas cedeu a essa
máquina, que temos. Mas temos de
quebrar esse paradigma e criar uma
nova cultura. Li, no
Estadão
, um
editorial sobre a extraordinária
liderança do presidente Lula... O
povo acha que ele não sabia de
nada, mas o presidente tem de
saber tudo. Outro dia falei que o
Brasil éumpaísparaplégicoporque
não tem direita; só esquerda.
HIRAN
– Sei que o Sr. está
escrevendo – com um amigo seu –
a biografia do criador do Ita.
Gostaria de ouvir um pouco sobre
o papel que teve esse homem – e o
ITA, como sementedaEmbraer, que
nasceu depois, sob a sua liderança.
OZIRES
– Tenho certeza absoluta
que, semo ITA, aEmbraer nãoexis-
tiria.Ummajor daFAB–ocearense
Casimiro Montenegro Filho –
afirmavaqueoBrasil só iria fabricar
avião se antes fabricasse enge-
nheiros. E começou a criar o plano
do ITA. O ITA foi revolucionário.
Durante sete anos, o graduado do
ITA não podia usar o título de
engenheiro, porque não era re-
conhecido peloMEC. Em 55 anos,
o ITA formou 4.500 engenheiros.
Tem um peso específico na socie-
dade brasileira – e foi absolu-
tamente inovador. Há um artigo
interessante, do Claudio Moura
Castro, na revista
Veja
, que ele co-
meça, antagonizando o leitor: “Já
imaginou uma escola brasileira
onde o reitor fosse americano? Já
imaginou uma escola em que o
professor é americano, com pri-
mazia sobre o brasileiro? Pode-se
imaginar uma escola onde só falem
inglês?” Coisas desse tipo. “Que
raio de escola é essa?” E ele es-
clarecia: “Essa escola foi o ITA”.
Disse que o ITA não deu bola para
oMEC, não pediu registro de coisa
alguma, não tomou conhecimento
de reconhecimento de curso, que
fez o próprio currículo. E está aí o
resultado.
JR
– A Varig tem salvação?
OZIRES
– Depende da vontade
política. É uma concessão de
serviço público essencial. Já notou
queogovernodizquenão temnada
com isso, porque a solução é com
o setor privado? Agora, todas as
soluções que foram apresentadas,
o governo não aceitou. Para mim,
tem salvação se o governo quiser.
Acho uma extremamaldade deixar
que a Varig desapareça. As con-
dições de operação do nosso
sistema aéreo são impensáveis,
quando comparadas com o que
acontece no exterior. E o negócio
aéreo é excelente – cresceu 14%
no ano passado. 1,8 bilhão de pes-
soas voaram – 1/3 da população
mundial. O avião consegue dar ao
cidadão a sua variável mais impor-
tante, que é o tempo. AVarig foi a
única companhia brasileira que
“ACHOUMAEXTREMA
MALDADEDEIXARQUEAVARIGDESAPAREÇA.”
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