Julho_2006 - page 58

José
Predebon
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
cessários à Educação do Futuro”.
Entre esses saberes estão os de exer-
cer a condição humana e a iden-
tidade terrena, coisas queDeeHock
tentoupôr empráticana sua criação
e gestão do cartão Visa, a maior
organização mundial do gênero.
Afirmaelequeocontroleacabou lhe
fugindo das mãos, e Visa se tornou
uma empresa como as outras, o que
o fez aposentar-se, e dedicar-se, a-
margamente, a arar terras deser-
tificadas, que comprara, para que a
natureza as retomasse.
Mas os desígnios da inovação tam-
bém agem depurativamente, pois ele
tornou-se peça central de um
movimento extremamente renovador.
Hock foi atraídoemobilizadoporum
grupo de idealistas que o levou a
fundar e dirigir aAliançaCaórdica, a
maisricaorganizaçãodo terceirosetor
nos Estados Unidos. O sucesso
financeiroda iniciativa é sintomático,
pois revela como está acontecendo
uma mudança de consciência entre
os gestores do sistema.
Aqui emnossopaís vemosmuitos ca-
sos de inovação abrirem perspectivas
novas de soluções dos problemas
nascidos da mentalidade guerra-é-
guerra. Inovação, por exemplo, levada
peloSEBRAEparaotimizar aatividade
econômicadospequenosempresários.
Outro exemplo importante é o do
Instituto Endeavor, espécie de in-
cubadora de iniciativas produtivas.
Talvez tenhamos chegado, finalmente,
à idade da razão quanto ao nosso
sistema, após um longo caminho de
acertos suplantados por erros. O
balançoque surgenaatualidademos-
tra que os erros nãomais estão sen-
do absorvidos, e a inovação, que
Segurem-se os tímidos, respirem fundoparanão
tremer, que asmudanças dehoje estão abalando
alicerces. Combustível do desenvolvimento em
todos os campos, as conquistas da ciência e os
ganhos da tecnologia têm hoje ritmo até
assustador. Por isso andam afirmando que a
inovaçãoéonomedo jogo, éaúltimamodamas
veiopara ficar,éumprocessoobrigatório,equem
recusar ou recuar está frito. Mentira, as coisas
sempre têm limite, tudo em excesso é ruim, até
água. Inovação também.Tantonoâmbitopessoal,
como no das organizações, existem claros níveis
acima dos quais a inovação passa a ser
contraproducente. Continuo afirmando, como o
fiz até o presente, que inovar é preciso, que o
mundo não pára de mudar, e que precisamos,
pessoas ou empresas, estar sintonizadas com a
realidadeatual.Mas vamos agora focalizar oque
defendemos ser o limite dessa dinâmica.
No âmbito pessoal temos primeiro de levar em
conta odesconfortodamudança, pois nada como
aproveitar aexperiência, quegera rotinas serenas
eseguras.A rigor, confortável sóéamudançadas
fraldas sujas, para deixar o nenê feliz. Porém o
desconforto damudança desaparece quando nos
acostumamos a ela, como no caso do sapato
novoque logo fica tãobomquanto o velho.Mas a
questãomaior vem com asmudanças domundo
que põem em cheque nossos valores. Aí, sim, a
mudançaéproblemadifícil, comaencruzilhadade
duasalternativas ruins;deum ladoa renúnciacom
desapego, edooutroodesajusteesuasseqüelas.
Disso nascem os limites da inovação pessoal.
Precisamos ser menos egocêntricos, mas nunca
podemos nos desapegar de nossas crenças e
princípios, que compõem os valores com os quais
aprendemos a viver. Tentar abandoná-los é
complicar nossa essência. Mas se o entorno vê
nossa posição como “antiquada”, “fora de
própósito”?Aí chegaomomentodenegociarmos,
partindo do princípio de que não existe apenas
uma verdade, equepodemos (edevemos) admitir
a diversidade de pontos de vista. Negociar uma
adaptação é como assinar um tratado de
convivência. No âmbito da família, o amor é o
QUADRO 3
avalista desse acordo, e todos podem “ficar na
sua”. Foi-se o tempo da autoridade absoluta,
controladora e punitiva. Convivencialidade começa
em casa. Sim, é bom ficar aberto a mudanças,
masnunca à custadeanular nossa consciência. O
mote não é inovação, é felicidade.
Enocampodasempresas?Aí inovaçãoemudança
têm dois aspectos básicos, ambos relevantes:
questãoum, aética, questãodois, acomplexidade.
Ambas compõem o limite da inovação viável e
produtivaemqualquer atividadeprofissional.
Aéticaprecisaestarcontidanamissãodaempresa,
que, apardeobter lucros, deve respeitar ohomem
e o planeta, sociedade emeio ambiente. Com isso
naculturaenapolíticadagestão, o restoédetalhe,
e toda a questão da inovação ganha parâmetros
naturais–oqueaorganizaçãodeve fazer,emcada
situação, ficará sempre claro.
Vejamosagorao limite impostopelacomplexidade
à inovaçãoorganizacional.Partamosdeumexemplo,
adeumaredede
fastfood
daCalifórniaqueresolveu
simplificar o seu cardápio inovador que se tornara
extenso demais e acarretava uma operação
complicada, pouco produtiva. Eliminaram os itens
menos procurados pelos clientes, e ficaram com
apenas meia dúzia de escolhas, mas daí com
qualidade, eficiência e custos tão melhores, que
todo o resto foi compensado. Caiu o ônus de uma
operação complexa, dentro da qual a “inovação
permanente” reinava. Simplicidade foi a solução.
Claroqueesseexemplonãopodesergeneralizado,
poiscadasetortemsuaspeculiaridades,eprincípios
decompetitividadenaturalmentesesobrepõemaos
deoperaçãomais fácil – oqueesta valerá, senão
produzir vendas?
Sugiro, comoconclusão, queo limiteda inovação,
tanto no campo pessoal como no empresarial,
seja imposto pela inteligência, que se alimentará
com informações captadas por olhos não
ofuscadospelobrilhodaúltimamoda. Inovar, sim,
mas nunca a qualquer preço, jamais apenas para
parecer moderno.”
“INOVAÇÃOTEM LIMITE
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