Maio_2010 - page 52

R E V I S T A D A E S P M –
maio
/
junho
de
2010
52
GRACIOSO
–EstaediçãodenossaRevistaé
sobrePequenaseMédiasEmpresasetam-
bém sobre aquelas que hoje sãograndes,
masque têmumahistóriadecrescimento
que vale a pena conhecer. Algo curioso é
queosnossosprofessoresgostamde tra-
balhar com casosdegrandesempresas. É
muitomaisfácilfalardeValedoRioDoce,
Petrobras,GerdaueForddoqueempresas
de pequeno porte. Entretanto, a maior
partedosnossosalunosacabatrabalhando
compequenas emédias empresas, éuma
contradição.Procuramosdemilmaneiras
corrigiressa falha.Estaediçãoda
Revista
daESPM
é uma forma de documentar os
bons exemplos. E é com esse espíritoque
viemos aqui para conversar, sabendoque
aCultura, felizmente,cresceufazendo jus
àquelapequenafrase“ninguémépequeno
por livre escolha”.Mas ainda é recente a
históriadecomoissoaconteceu,apartirde
sua fundação, há60anos, por seuspais...
PEDRO
–63anosparasermaispreciso.
GRACIOSO
–Podemoscomeçarcomumre-
sumodahistóriadesua famíliaedecomo
asvias–entreeleseaLivrariaCultura–se
entrelaçaram?
PEDRO
–SouumadmiradordaEscola.Faço isso
commuito prazer. Ahistória começa commeus
pais fugidosdonazismo.Noúltimominutocon-
seguiram fugir da Europa, em 1938, quando as
coisas erammuitodifíceis.Meuspais, alemães já
casados, conseguiramembarcarnumnavio,mas
vieram separadosporquenão conseguiram fugir
juntos para oBrasil. Onavio fez uma escala em
Recife–porqueGetulioVargasnãopermitiuque
osrefugiadosviessemdiretoparacá–eseguiram
paraaArgentinaemnaviosseparados.Depoisde
algumtemponaArgentinaconseguiramumvisto
paramigrar para o Brasil. Meus pais chegaram
aqui em1939, nasci em1940. Eles faleceramaqui
enãoquiserammaissaberdevoltar.Tiveramuma
gratasatisfaçãopelaacolhidaepelaoportunidade
queoPaís lhesproporcionou.Em1947,doisanos
após o final da Segunda Guerra, minha mãe
precisava ajudarmeupai, porque comoque ele
ganhavaquasenãodavapara sustentar amime
aomeuirmão.Elateveaideiadealugarlivrospara
a colônia alemã. Começou alugando dez livros
emalemão, que comproudeum fornecedor, que
foi camarada conoscoedeuaela crédito.Minha
mãeachavaquemuito livrovaliaapena ser lido,
mas não comprado, até porque espaço era uma
coisa complicada na casa de todos, morava-se
em espaços pequenos. Assim a coisa foi de dez
paraonze,doze, treze livroseassimpordiante.A
aceitaçãofoiótima,todosseinteressaram.Oprazo
paraa leituraeradeumasemanaesevocêficasse
um dia amais não tinha nenhuma penalidade.
Depois, esses sócios da Biblioteca Circulante –
comoelaos chamava–estimularamminhamãe
a terumvarejo, porque tinhamgostado tantode
determinadolivroquequeriamcomprá-loparadar
depresenteaoutraspessoas.Aessaaltura játinha
alguns títulos emportuguês e assim começouo
negócio. Isso foi crescendo na nossa casa. Mas
chegouummomentoque foi “os livrosounós”e
tivemosque sair comos livros.Umaamigadela,
naocasião, teve a ideiade abrir uma lojanaRua
Augusta, mas era uma lojamuito grande, com
formato retangular eminhamãenão tinha con-
diçõesdeocupar todaa loja.Entãoveioa ideiade
dividiroespaço.Imagineuma lojaretangularque
foidividaemdoisretângulos,cadaumnasuaati-
vidade.Aamigadaminhamãevendiachocolates,
presentesecoisasdessetipo.Essasociedadedurou
poucoporqueumaqueriatrabalhareoutraqueria
descansar.Nãodavaparaabrirmeiaporta,porque
fisicamenteeraumalojasó.Entãoasociedadeteve
quesedesfazerporqueasduasacabarambrigando.
Aí,denovo, juntamosos livrose trouxemospara
dentrodecasa,masaessaalturanãocabiamais.
Resolvemosprocuraruma casamaior. Encontra-
mos um sobrado na Rua Augusta que era bem
maiordoquea casanaAlamedaLorena, que foi
onde tudo começou, e fomos todos – os livros e
a família –morar naRuaAugusta. Claroqueos
livros continuaram proliferando e não os filhos.
Os livrosaumentarameoespaçocomeçouaficar
pequeno,denovo.Atéquesurgiuaoportunidade
“vamosemboradaquiporquenão temmais jeito,
oespaçodacasaestápequeno”.Conseguimosum
ENTREVISTA
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