Omal-estar naorganização
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
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(asseguraros interessespessoais),estabelece
uma tensão entrenecessidades opostas em
constante desequilíbrio. Essa tensão pode
sera fontecriativadedesejosedesafiosque
impulsionam o indivíduo a dedicar-se ao
trabalho, mas pode também ser o poço de
ansiedadesepreocupaçõesqueturvam
seupensamento e inibem sua capaci-
dadedeaçãoe inovação.
Aculturacomosinto-
madaorganização
A análise da cultura organizacional
devemirar dois focos distintos: os
as-
pectosmanifestos
, que são perceptíveis
e reconhecíveis pelos membros da
organizaçãoeseusagentesexternos, e
os
aspectos latentes
,quepertencemàdi-
mensão irracional do comportamento
humano, particularmentedo compor-
tamento de grupo. A visão binocular
proposta pela psicanálise mostra-se
apropriadaparaconjugar ecolocar em
perspectiva essas duas dimensões da
culturaorganizacional.
Em 1929, em pleno período da grande
depressão, Freud publica um de seus
mais conhecidos textos sociológicos,
OMal-Estar na Cultura
. Marcada pela
clarezadopensamentodesseautorepor
umpessimismobastante coerente com
asituaçãoeconômicamundialdeentão,
a obra apresenta como tema central
o
inevitávelantagonismoentreasexigências
instintivas do ser humano e as restrições
necessáriasàvida emcivilização
.
Tempos depois, em 1950, Bion publica
ExperiênciasemGrupo
,umasériedear-
tigosquesetornariaumadasportasdeacesso
da psicanálise ao universo organizacional.
Nessaobra,oautorevocao textodeFreudde
1921,
Psicologia dasMassas eAnálise doEu
, e
formula a hipótese de que os fenômenos de
grupo decorremda fantasia inconsciente de
queogrupo constitui umaunidade viva em
queseusmembrosexperimentamumaestranha
perda das diferenças individuais. Para Freud e
Bion,opertencimentoaumgrupocoincidecom
essa relativadissoluçãoda individualidade.
Quandotrazemosessasreflexõesparaocotidia-
nocorporativoeasrelaçõesdeequipe,podemos
melhor situar as dificuldades humanas que se
manifestam no seio da cultura organizacional.
A capacidade de adaptação, enfrentamento de
desafios e flexibilidade para mudanças – ele-
mentosnotadamente individuais,carregadosde
subjetividade–são,paradoxalmente,restringidos
pelaprópriaculturaorganizacional.Ocotidiano
deumaorganizaçãoestabeleceordem, códigos,
costumes, regrasevaloresnecessáriosparaque
a empresa realize seus objetivos de negócio e
ponha em prática a sua missão. A cultura or-
ganizacional como fenômeno de grupo nasce
da necessidade criativa dos indivíduos, mas,
no limite, é também amaior restrição à plena
expressãoda individualidade.
Ofenômenocultural–segundoovérticeanalítico
proposto por Jung – representa um aspecto da
realidade situado entre o individual e ouniver-
sal. Esse campo intermediário da experiência
humana estabeleceuma ligação entre vivências
pessoais, constituídasnaaçãodecada indivíduo
particular,eaquelasquedizemrespeitoànature-
zahumana(asexigências instintivasaqueFreud
sereferia).Acultura,nestecontexto,compartilha
elementosdeambasasdimensões–a individual
eauniversal–,maspossuicaracterísticasabsolu-
tamenteúnicasemformaeconteúdo,específicas
deumdeterminadoconjuntosocial.
Como lugardepertencimento, aculturaorgani-
zacionalofereceàspessoasapossibilidadedepôr
emprática seus talentos, competênciaseaspira-
çõesprofissionais.Nesseaspecto, aorganização
representa um espaço propício à criatividade
humana. Ao fazer partedeuma equipe e vestir
a camisa da empresa, o indivíduo encontra na
cultura organizacional uma resposta à sua ne-
cessidade de pertencer e de ter uma identidade
reconhecidaeconfirmadadentrodocontextode
umgrupode referência.
Em1950,
Bion
publicaExpe-
riênciasemGrupo,umasé-
riedeartigosquese tornaria
uma das portas de acesso
da psicanálise ao universo
organizacional. A obra for-
mula a hipótese de que os
fenômenosdegrupodecor-
remdafantasia inconsciente
dequeogrupoconstituiuma
unidade viva em que seus
membros experimentam
uma estranha perda das
diferenças individuais.
O fenômeno cultural – se-
gundoovérticeanalíticopro-
postopor
Jung
– representa
um aspecto da realidade
situado entre o individual e
ouniversal.
Fotos:Divulgação