CulturaNacional eCulturaOrganizacional
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
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vida social. Portanto, esse conjunto de
símbolos e significadosnão tem fronteiras
definidas, nem territórios exclusivos e,
menosainda, substâncias imutáveis.Esses
se estendem e se distribuem, ignorando
fronteirasfísicasesociaiseformandoredes
semânticas que se entremeiam de forma
complexa, algumas de formamais transi-
tória eoutras de formamais duradoura. É
apartirdosarranjos,hibridismo,combina-
ções e ressignificações a que submetemos
esse conjunto de símbolos e significados
quenascemasdiferençasquepercebemos
entresociedadeseorganizações.
Essaperspectivadeentenderoqueécultura
reposicionaodilemaentreculturanacional
eorganizacional.Aquestãopassaaser:em
quemedidaaquelessímbolos, significados
e práticas que identificamos, em determi-
nadas circunstâncias, como nacionais se
relacionam com outras que consideramos
nocontextodasorganizaçõescomofazendo
parte domundo empresarial, corporativo,
gerencial,denegócios, entreoutros.
Nessa perspectiva, a cultura nacional é
um recorte específico de determinadas
lógicas, práticas e valores que se encon-
tram disponíveis e que, em determinadas
circunstâncias, definimos como “brasi-
leiros”, pois sinalizam para como nos vemos
e julgamos ser. Dentro dessa mesma lógica a
culturaorganizacional éumoutro recorte sobre
ummesmo conjuntode símbolos e significados
quecombina,enfatizaearticuladeformadistinta
e que as pessoas no interior de organizações
particulares julgam singularizá-las no contexto
das demais. Por exemplo, não existe nenhuma
sociedadecontemporâneamodernabaseadaem
princípios igualitários que não tenha como um
de seus valores centrais ameritocracia a reger a
mobilidadeverticaldaspessoasnasorganizações
públicas e privadas. Opróprio sistema jurídico
dessas sociedades deixa isso explícito seja sob a
formadeprincípiosconstitucionaisououtrosdis-
positivos legais. Justamenteporquea igualdade
é um princípio estruturante da vida contem-
porânea, todas as organizações modernas e
contemporâneas têm sistemasdeavaliaçãode
desempenho, mesmo que vigorem apenas do
ponto de vista formal.Mas embora, do ponto
devistasimbólico,ameritocraciasejaumvalor
paraassociedadesmodernase individualistas,
na prática, diferentes sociedades o enfatizam
de forma bastante distinta. Podem ratificá-lo
e fazer a prática solidária em grande medida
coma representaçãoou simplismente torná-lo
um instrumentodiscursivoqueutilizoemmo-
mentosespecíficospara falar tantodonacional
quantodoorganizacional.Porexemplo,quando
emépocasdeeleiçãosurgemacusaçõessobreas
práticasnepóticasdedeterminadoscandidatos
ouquandonocontextoempresarialdeslegitimo
oméritodeumcolegaaodizerqueeleéprote-
gidode fulanooubeltrano.
Brasil versus
EstadosUnidos
Um exercício comparativo entre Brasil e Es-
tadosUnidos pode nos ajudar a ver issomais
claro.Na sociedadenorte-americanaomérito
é o valor a regular a movimentação vertical
das empresas e praticamente o único valor
admitido no âmbito público. Na sociedade
brasileiraeleé, apenas, umdosvaloresa reger
amobilidadeorganizacional. Entrenós, tanto
do ponto de vista das organizações públicas
quanto das privadas o critério meritocrático
convive explicitamente com o das indicações
políticas,comodaconsaguinidadeecomodos
privilégios corporativos sem causar grandes
desconfortos. Isso não impede que muitas
empresas privadas no Brasil o tenham como
um valor fundamental na sua cultura orga-
nizacional, não admitindo outro parâmetro
paraamovimentação internadaspessoasque
não seja aquele da avaliação dos resultados
individuais. Temos meritocracia no Brasil e
nosEstadosUnidos comoumvalor, umaprá-
tica e uma lógica demobilidade,mas a temos
de forma diferente. Entre nós ela encontra-se
HofestedeScheinsãoos
dois autores representati-
vos dessas duas macro-
perspectivas. O primeiro
enfatizaopesodacultura
nacional
vis à vis
ao da
organizacional. O segun-
do afirma a importância
do papel do fundador na
construção de um univer-
so de valores próprios às
diferentesorganizações.
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