Cultura e valoresnasempresasbrasileiras
R E V I S T A D A E S P M –
março
/
abril
de
2010
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Asexplicaçõessintéticas, comoasque
se fazianosanos70e80doséculopas-
sado, são insuficientesparaapreender
a realidade contemporânea. Pior: este
tipode juízo reforçaasbarreirascultu-
rais.Apsicologia coletivaeosdemais
elementos de identificação tendem a
levar a entender os traços culturais
das empresas como “agressivos”, “in-
vasores”oudesprovidosdesentido.A
reação é óbvia: os traços distintivos,
“protetores” da herança cultural, são
reforçados, instituindo-seumsistema
defensivo, não só dos componentes
gerais, como o idioma e a expressão
religiosa, mas, também, específicos
daeconomia: a formade trabalhar, os
perfis de consumo.
Modelosde
superação
Épossível identificar trêsmodelosestratégicos
de superaçãodas diferenças culturais:
Ummodelo tradicional, de ingerência
direta da organização sobre omeio em
queatua, incluindo-seaí as organizações que
deladependem;
Um segundo modelo, hegemônico, de
interferênciamediada;
Ummodelo harmônico, de integração
cultural.Estesmodelossão tipos-ideais,
servem como referências. Só raramente exis-
tememestadopuro,omaiscomuméencontrá-
los em formas híbridas.
O modelo tradicional é caracterizado pela
uniformidade e pela aculturação forçada. É
umatransferênciadosvaloresdaempresa.Nesta
forma de superação das diferenças culturais, o
geist
, oespíritodaorganização, oprincípio ima-
terial e impessoal quea rege, é confundido com
acultura, coma formacomoelesemanifesta.A
empresa se representae seapresentacomouna,
qualquer que seja omeio em que atue. A sua
identidadecorrespondeà ideiaalemãdecultura
(Kultur).Umconceitoquederiva,historicamen-
te, damissão empreendida, nos séculosXVIII e
XIX, pelos intelectuais alemãesdeafirmaçãoda
nacionalidade e que congrega a alma, o gênio
de umpovo e determina os seus limites. Neste
modelo, as diferenças entre os traços culturais
sãonegadas.Os valoresorigináriosdo contexto
nãosãoconsiderados.Trata-sedeumprocessode
colonização, emquenãohácontatocultural, em
queostraçosculturaisdoreceptorsãoreprimidos
ouanulados. Éumdifusionismo, voltadoparao
tempo(passado)eoespaço(distante)daempresa.
Osegundomodelo,ohegemônico,écaracteriza-
dopelocontrole,porumaaculturaçãoplanificada,
emqueacoesãomarcaasrelaçõesentreaempre-
saeoseucontexto.Nestaformadesuperaçãodas
diferençasculturais,asmanifestaçõesdos indiví-
duosdevemespelharoespíritodaempresa.Asua
identidadecorrespondeà ideia iluministaeàdos
pais-da-pátrianorte-americanos,daculturacomo
algoque sepropagapelaeducação, daextensão
dos valores, no sentidohorizontal, pelonúmero
depessoas instruídas,e,nosentidovertical,pelo
aumentodaamplitude,daabrangênciaedapro-
fundidadedoconhecimento.Nestemodelo,asdi-
ferençasentreostraçosculturaisnãosãonegadas,
masaculturadaempresaéimpostasegundouma
espéciede imperialismoorganizacional.Trata-se
deumprocessodeassimilação,emqueos traços
culturais do contexto são desconsiderados ou
consideradosnegativamente.A troca cultural se
dá em sentidoúnico. Éum evolucionismo, vol-
tadoparao tempo (futuro) eoespaço (unitário)
idealizadopelaempresa.
Porfim,omodeloharmônicoécaracterizadopela
maximizaçãodeutilidadesmedianteaculturação
deduplosentido,emqueaflexibilidademarcaas
relaçõesentreaempresaeoseumeio.Na forma
harmônicadesuperaçãodasdiferençasculturais,
oespíritodaempresapermeiaasdiversasculturas
correspondentes às situações espaço-temporais
emqueatua.Aidentidadedaempresacorrespon-
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