março
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abril
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
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de a um processo de adaptação. Nestemodelo,
asdiferençasentreos traçosculturaissãoobjeto
de um acordo pragmático, de um processo de
relativizaçãoestrutural,emqueatrocaculturalé
estimulada.Trata-sedeumsistemaderecriação,
voltado para o tempo presente e para o espaço
virtualdacontemporaneidade.
Osefeitosda imposição, característicadomodelo
tradicional,podemser,eemgeralsão,contrapro-
ducentes. Sofrer uma dominação econômica ou
socialnãosignificaconsentir.As tensõesgeradas
pela imposição tendem a gerar resistências cul-
turais indeléveis.NoBrasil estas resistências são
evidenciadasporexpressõestaiscomo“parainglês
ver”, “ideiadegringo”eoutrasmenoseducadas.
Expressões, aliás, que vão caindo em desuso na
medidaemqueomodelotradicionaldesuperação
dasdiferençasculturaisvemcaindoemdesuso.
As técnicas de integração empregadas na forma
hegemônicadesuperaçãodasdificuldadesineren-
tesà tendência individualista têmefeitos inespe-
rados. Équeestas técnicas foramdesenvolvidas,
testadaseajustadasna integraçãodaschamadas
identidadescomtraçodeunião(afro-americanos,
judeu-americano, ....), características dos EUA,
masquenão seaplicamaculturascomoabrasi-
leira,dominadapelamiscigenaçãoeosincretismo.
Sãopráticasúteisparaasuperaçãodebarreirasem
um “federalismo cultural”,mas despropositadas
no ambienteunitáriobrasileiro. Por exemplo, os
programasdefidelizaçãointerna,tãocomunsnas
grandescorporações, têmocondãodedespertar
perplexidadeedesconfiançano trabalhadorbra-
sileiro que, por razões histórico-culturais, tende
asefidelizar, a“vestiracamisa”daorganização,
sejaelaqualfor,nomomentoemqueécontratado.
Empresaecultura
Dopontode vistada interação cultural,
o sistema de governança harmônico é,
evidentemente, o mais adequado. Ele
partedopressupostodamútua inteligi-
bilidadedasculturasemtornodeumeixo
mentalqueécomumàhumanidade,eda
possibilidade efetiva de ummovimento
de aculturação. Omodelo harmônico
deixapara trása ideia, errônea,masain-
damajoritária nas grandes corporações
internacionais, de que existiriam am-
bienteseconômico-culturais“primitivos”
e“civilizados”.
Apassagemnagestãoestratégicadomo-
delotradicionalparaohegemônicoedes-
teparaoharmônicoassinalaa tendência
aoconvívioentreculturasdistintascomo
garantia da objetividade das relações
internas e externas das empresas. Mas
é preciso ter presente que a diversidade
culturalnãoécomoadiversidadenatural,
abiodiversidade.Asuadinâmicaémuito
maisacelerada,assuasbarreirassãoper-
meáveis, o seu território se desloca. De
modo que a superação das dificuldades
apresentadas pelas diferenças culturais
só se resolvepela viada coabitação cul-
tural,medianteestratégiasdirigidasaum
multiculturalismopacífico.
Com a aceleraçãodos processos, o tempode re-
cuperação de uma informação imprecisa, de uma
decisão equivocada se reduz drasticamente.
Stockbyte
HERMANOROBERTO
THIRY-CHERQUES
GraduadoemAdministração,mestreemFilosofia
edoutoremCiências.Professor titulardaFGV-
EBAPEepesquisadordoCNPq.