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R E V I S T A D A E S PM –
J U L H O
/
A G O S T O
D E
2 0 0 5
Entre
vista
RUYMESQUITA
– Só dos anun-
ciantes, porque nosso público dá
prejuízo.
JR
–Essa situação temumaspecto
indesejável: na ânsia de competir
pelas audiências e assegurar a
receita, os veículos começaram a
dar precedência aos números de
audiência e o entretenimento foi
preenchendo os espaços, em
detrimentoda informação.
RUY MESQUITA
– Conheço o
problema.Aqui dentro, háatéuma
divergência entre nós. Eu – pela
idade que tenho – sou totalmente
contrário. Não acredito nessa
situaçãoatual. Tenhoo testamento
daquele editor do
The
New York
Times,
que foidespedidoporcausa
do caso do repórter que falsificou
matérias. Logodepois,escreveuum
longo artigo na revista
Atlantic
.
Mandei traduzir,paradistribuiraqui
no jornal. Entreoutras coisas, dizia
que, diante do desafio da Internet,
todos estão assustados – o jornal
escrito americano discute se vai
sobreviver ou não. Estou conven-
cido de que vai. Afinal, em todos
esses
blogs
e
sites
–quequaseviram
jornais–a informaçãodelesvemde
onde? Têm infra-estrutura para
produzi-la?Mas não há dúvida de
que,particularmentena televisão–
enaTVacabo–, oentretenimento
predomina. O jornal que não for
sério não sobreviverá. E também
têm espaço para amenidades:
você pega a edição de domingo
do
The New York Times
e há
cadernos para os diversos gostos.
O jornal tem de se tornar uma
leitura necessária, para uma
determinadaclasse social, porque
nuncavamos poder concorrer em
audiência com os veículos ele-
trônicos. Eles dão a notícia em
primeiramão, hojequaseaovivo.
Sou um analfabeto tecnológico,
mas recebo, todos os dias, um
clipping
com tudoquea imprensa
no mundo publica. Fico impres-
sionado com a tendência –
principalmente nos Estados
Unidos e na Inglaterra – de os
jornais publicaremmatérias cada
vez maiores. Não sei como a
pessoa tem condição de ler. Por
razões econômicas, só posso
publicar, nomáximo, umamatéria
que ocupe meia página. Não
posso fazer comoo
TheNewYork
Times
, que publica quantas
páginas foremnecessárias, porque
não têmproblemaeconômico–o
que eles chamam
matéria de
apoio
.Anotíciaé igualpara todos.
Digoparameueditor: odiretor de
um jornal éum regentedeorques-
tra, que recebe a partitura todos
os dias e essa partitura – que é o
noticiário – é igual para todos os
jornais domundo. São raríssimos
os jornais que conseguem o que
se chamava antigamente de
furo
.
Isso não existemais. O
The New
York
Times
, por exemplo, tem
correspondentes no mundo
inteiro. E eles têm um setor de
assistênciapsicológicaaos redatores
do jornal, que entram em crise,
porque passam semanas fazendo
matériasquenãosãopublicadas, já
queproduzem, emmédia, de40 a
50%mais por dia do que podem
publicar.
GRACIOSO
– O que vende mais
jornal?
RUYMESQUITA
–Nãovende.No
tempoemque lançamoso
Jornalda
Tarde
, amanchete era importante,
pois o jornal só vendia na banca.
Isso tornava os jornais
sensacionalistas.Outrodia, a
Folha
publicou um trabalhomuito bem-
feito, mostrando que, nessa crise
toda, quemobilizouopaís inteiro,
nenhum jornalaumentoua tiragem.
Mesmo porque, em alguns casos,
90% da tiragem do jornal vem de
assinaturas.
JR
–Éverdadequeo leitorde jornal
estácadavezmaisvelho?Os jovens
nãoestão lendo jornal?
RUY MESQUITA
– As pesquisas
americanas – feitas como rigor ea
competência com que fazem – é
quedivulgaram isso:cadavezmais
a idademédiado leitor émais alta.
E posso falar por experiência
própria,porque tenhodozenetose
estão todos na Internet, odia todo.
JR
–Evocênãovêa Internet como
um canal alternativo de liberdade
deacessoedeexpressão?
RUYMESQUITA
–Masécara.Não
“NINGUÉM IMAGINA A INFLUÊNCIA
DE UM EDITORIAL DO ESTADO.”