Maio_2005 - page 58

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J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
Ruy
Mesquita
é todo mundo que pode comprar
um computador. Acho a Internet a
coisamais positiva que surgiu nos
últimos tempos, inclusive para
quemquer, realmente, se informar
eestudar.Umdosmeus netos –de
oitoanos,queestudaemumcolégio
americano e fala inglês – ligou-me
paraperguntar: “Vô, vocêconhece
um Sr. chamado Churchill?” Eu
disse: já ouvi falar. E ele: “Preciso
fazerum trabalhodocolégio sobre
ele. Você pode me ajudar?” E eu:
claro,vouver seachoalgumacoisa
no arquivo do jornal. Ele foi jantar
naminhacasa,nodiaseguinte,com
outrosnetos, ecomonão falavano
assunto, cobrei. Ele respondeu:
“Nãoprecisamais, vô. Peguei tudo
que preciso no
site
e agora só
preciso traduzir.” Éuma revolução
fantástica!
GRACIOSO
– Há pesquisas que
mostramquea Internetéusadahoje
por 32 milhões de brasileiros.
Acreditoqueos jornais brasileiros,
noseuconjunto,nãoatingem tantos
leitores.
RUYMESQUITA
–Nadaparecido.
GRACIOSO
–Massecompararmos
opoderpolítico,opinativode fazer
cabeças, do jornal e da Internet, o
jornal ganhade longe.
RUYMESQUITA
–Na Internet, são
32milhões demonólogos.
JR
– Gostaria de ouvi-lo sobre a
questão do uso do português, na
imprensa e na fala dos apresen-
tadores do rádio e da televisão. A
línguapareceestarempobrecendo.
RUYMESQUITA
–Têmpublicado
coisas como “75%dos brasileiros
são analfabetos funcionais”.
Precisamos entender que esse
fenômeno não é brasileiro, mas
universal. Existe nos Estados
Unidos, na França, que é o país
mais culto do mundo. Há uma
massificação do ensino. Não sei
qual é a situação exata de todos
os países, mas, no Brasil, as
escolas de jornalismo são um
terror. Os jornalistas que tenho
aqui não sabem o que aconteceu
antes da data em que nasceram.
Oque sai debarbaridades, diaria-
mente, no jornal! Faço cobranças
diariamente, sobrea linguagem, a
incapacidade de redigir correta-
mente, eles não têm noção do
sentido das palavras; usam pala-
vraserradas.
JR
– Isso não está ligado a uma
certa dificuldade de pensar?
RUY MESQUITA
– Exatamente.
Meupai dizia isso: pensamal, fala
mal, escreve mal. Isso surpreen-
deu-me, quando ele falou, mas,
quando fiquei mais velho, pude
entendê-lo. Nunca fui um aluno
brilhante, inclusive porque os
colégiosdaminhaépocanãoeram
nadabrilhantes. Estudeinocolégio
São Luis; fui expulso de lá e fui
paraoRioBranco.OSãoLuis era
o único que exigia latim desde o
primeiroanodoginásioemeupai
fez questão de me dar um
professor particular de português
e latim, dizendo “quem não
domina a línguanão sabepensar,
porque o instrumento do pensa-
mentoéapalavra”. Eacrescentava
que o latim exigia uma ginástica
mental extremamente útil para o
desenvolvimento da inteligência,
por causa da ordem. E tenho esse
time de quinta categoria... Cada
vezque sai uma fornadanovadas
escolas, é pior. Acham que o
mundo começou na data do
nascimento deles – e não sabem
escrever...
JR
– O que fazer? Afinal, são os
comunicadores e – através do
jornal ou da Internet – são os
encarregados de transmitir a
informação.
RUY MESQUITA
– Vocês não
viramagozaçãoqueatéos jornais
mal escritos fazemcomo linguajar
dos deputados? Amaioria é anal-
fabeta.Nuncaaprendi gramática;
aprendi português.Meupai exigiu
do professor particular que me
lesse e fizesse a análise léxica e
lógicados Lusíadas, duranteanos.
EueoprofessorNapoleãoMendes
deAlmeida–quedepois trabalhou
conosco. Por acaso, aprimeiravez
queele leuosLusíadas foi comigo,
porquemeu pai dizia: “Você tem
de aprender português lendo bom
português”. Mais tarde, fez-me ler
“QUANDO O GEISEL DEIXOU O PODER, HAVIAMAIS DE
DUZENTAS ESTATAIS, TODAS SEMIFALIDAS.”
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