Maio_2005 - page 59

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R E V I S T A D A E S PM –
J U L H O
/
A G O S T O
D E
2 0 0 5
Entre
vista
o PadreVieira.
JR
–Considerandoquenãovamos
conseguir que os jovens leiam os
Lusíadas, o que podemos fazer
para que nosso idioma não
desapareça e a comunicação se
torne impossível?
GRACIOSO
– Esse problema
existe tambémnapropaganda.Há
pelomenos 10anos quenãovejo
surgir umbom redator.
RUYMESQUITA
–Fico fascinado
com a propaganda que vejo na
televisão; não sei como alguém
agüentaverumanúnciodaqueles.
Aprimeiracoisaque faço, quando
apareceumcomercial, édesligar,
porque me irrita profundamente
esse tipodeanúncio, com ilações
que não consigo perceber.
Começo a achar que sou burro,
porque não percebo nenhuma
relação entre a imagem que está
láeoprodutoquequeremvender.
Enfim, issome preocupa muito –
o quintal da Babel que está aí. O
problema da comunicação de
massa é que a pessoa vê aquilo e
não precisa saber ler para ter
conhecimentodo fato; fotografao
fatoenãodigereoqueestávendo.
Esse é o grande problema, que
explica toda essa loucura que vai
pelo mundo em termos de
crescimento da criminalidade,
desrespeito pelo sossego alheio
etc.
JR
–Umdosnossos entrevistados
sugeriu que a dificuldade de
expressão verbal leva a outras
manifestações de expressão, que
incluem a violência.
RUYMESQUITA
–Nãoéabsurdo.
Achoperfeitamentepertinente.
JR
– Ou seja, estaríamos traba-
lhandoparaadiminuir aviolência
e aumentar a paz, se fizéssemos
esforços para que as pessoas se
comunicassemmelhor, inclusive
dopontode vista da linguagem.
GRACIOSO
–Achoquenãoé isso.
Imagine o pixador de paredes
dizendo: “Já que ninguém me
ouve, vou pixar parede”. Ele não
está preocupado em expressar-se
bem; não tem veículos de
expressão.
JR
– Como devem proceder as
minorias...
RUY MESQUITA
– Você está
falando das “minorias majori-
tárias”, como, por exemplo, os
homossexuais? Sou bem mais
velho que você e assisti a muitas
mudanças que ocorreram de
repente, os costumes, o compor-
tamento na rua. São Paulo – que
foi provavelmente a cidade que
mais cresceu no mundo, nesse
período – era uma vila em que
conhecíamos o condutor do
bonde – o tratávamos pelo nome
– virou esse caos, esse acam-
pamento. Não é uma cidade; é
uma orla acampada, com todos
esses problemas sociais.
GRACIOSO
–Minha avó contava
que, quandoum filhoperguntava
a ela “mãe, será que essa moça
queestounamorandovai dar boa
esposa?”, ela dava o seguinte
conselho: “pergunte se ela sabe
pregar um botão”. A moral era:
todas asmoças daquelaépoca sa-
biam pregar botão, logo
casamentoéumaquestãode sorte.
Hoje, se submetermosmil moças
a esse teste, nenhuma casa...
RUY MESQUITA
– Basta ver no
jornal.Quando entrei, haviauma
mulher, que era a Carmem, que
fazia o Suplemento Feminino.
Hoje, são maioria. Essa é outra
revolução do mundo moderno,
que explica o desemprego, pois,
antigamente, as mulheres não
trabalhavam fora. Mas é um
mundo fascinante e sou irrestrita-
menteotimista, a longoprazo.Ao
contrário do que se diz, o
problema crucial dahumanidade
foi resolvido com a moderna
economia, depois de milhões de
anos, que eraoproblemade ter o
suficienteparacomer, sobreviver.
Oproblemahojeéocontrário: há
excesso de produção, e a capa-
cidade de produção é teorica-
mente ilimitada. É um problema
de inteligência. Eohomem, apesar
das pretensões que tem, sua
inteligência é limitadíssima.
“HÁ PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, COMO A
LIBERDADE POLÍTICA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO
EA LIVRE INICIATIVA.”
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