Os
YesMen
76
REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
quinagensdospoderososrepublicanos
da era Nixon.
Esse fato, a proteção da fonte de
Watergate, sempre assustou os
poderosos pelo mundo inteiro. Em
1973, a Justiça americana não exi-
giu que Bob Woodward e Carl
Bernstein, os dois repórteres do caso
Watergate, revelassem quem era o
“Garganta Profunda”. Bem ao
contráriodehoje, e, em1973, a Jus-
tiça americanaos protegeu. Embora,
em plena era Nixon, os dois
repórtereseo jornal também tenham
sidodenunciados por quebra de leis
federais, sobre segurança nacional,
oquemudounosEstadosUnidos (um
país que é uma espécie de símbolo
da liberdade de imprensa) e no
mundo para que agora JudithMiller
passe suas tardes lavando uniformes
de “internos”emumaprisão federal?
É verdade que liberdade de expres-
são anda sob fogo cerrado pelo
mundo inteiro. E, não só porque 48
jornalistas foram assassinados no
exercício da profissão em 2004,
segundoaorganizaçãonãogoverna-
mental
Repórteres sem Fronteira
(
Valor Econômico
, 2005). Isso só
ocorre porque, como constatou a
revista
The Economist
, 43% da
população mundial (2,69 bilhões)
vivem empaíses emque a imprensa
“não é livre”. Outros 40% (2,51
bilhões) vivem com uma imprensa
“semi-livre”. Apenas 17% (1,08
bilhão) dos habitantes do planeta
podem ler,com toda liberdade,oque
quer (
The Economist
, 2005). Na
classificação da respeitada revista
inglesa, o Brasil está entre os países
emquea imprensaestá “semi-livre”.
Portanto, láecámás fadas há. É fato
quenão foi sóopoderoso Executivo
norte-americanoquepretendeupunir
o direito de livre expressão. Na
edição de 3 de agosto de 2005, a
revista
Veja
publicou váriasmatérias
contrárias ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Na semana seguinte
em que a revista circulou, um
advogado impetrouumaaçãopenal,
direto no Supremo Tribunal Federal
(STF), contraumcolunista, umeditor
e o presidente do Conselho de
Administração da
Veja
, acusando-os
de “colocar em risco o regime
democratico”, pedindo a condena-
ção dos denunciados por “crime de
subversão contra a segurança
nacional”. Como havia uma da-
quelas celebres tecnalidades
Bemaocontráriodehoje, e, em
1973, aJustiçaamericanaos
protegeu. Embora, emplenaera
Nixon, osdois repórtereseo jornal
também tenhamsidodenunciados
porquebrade leis federais, sobre
segurançanacional, oquemudou
nos EstadosUnidos enomundo?
✲
DAPOPULAÇÃOMUNDIAL
(2,69BILHÕES)VIVEMEM
PAÍSESEMQUEA IMPRENSA
“NÃOÉLIVRE”.
43%
(2,51BILHÕES)VIVEMCOM
UMA IMPRENSA“SEMI-
LIVRE”.
40%
jurídicas em jogo, o ministro José
CelsodeMelloFilho, relator docaso
no STF, determinou o arquivamento
da ação por razões processuais
(deveria ter sido impetrada na
primeira instância da Justiça Federal
e não no Supremo) mas,
considerandoqueocasopoderiaabrir
um “perigoso precedente”, o
ministroMelloFilho julgou“oportuno
entrar no mérito” da discussão
formando jurisprudência que deve
servir de parâmetro no julgamento
de novas ações criminais, em casos
que envolvam liberdade de expres-
são, especialmente incluindo
jornalistas.
OministroMello Filho afirmou (em