Maio_2005 - page 66

Os
YesMen
80
REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
CBS News
foi oficialmente punida,
por comissão independente do
Congresso, por reportagem enga-
nosa, seguidadeobstruçãododireito
de resposta, sobre o histórico de
GeorgeW.BushnaGuardaNacional
Aérea. Foram demitidos, em
conseqüência, vários executivos e
produtores que fecharam os olhos
para a verificação da matéria que
denegria o passadomilitar do presi-
dente, em 1970, sem as devidas
provas.
Não há dúvida que problemas com
a credibilidade da imprensa vêm
ocorrendo há anos nos EUA. Os
problemas saíram do controle, em
2001, quando Jayson Blair, literal-
mente, inventou reportagens fanta-
siosas que o
The New York Times
publicou, inclusivecomchamadaem
primeira página, sem verificar nada.
Blair contou casos escabrosos de
lugaresqueeleapenas “visitou”pela
Internet, incluindo fotos. No ano
seguinte, Janet Cooke fez o mesmo
no
WashingtonPost
e JackKelleyno
USAToday
, revelados sódepois que
o erro do
Times
foi descoberto. Sem
contar outros escândalos, comoodo
comentarista Armstrong Williams,
querecebeuUS$240milparapromo-
ver, em rede nacional de TV, o
programa do governo Bush “Ne-
nhuma criança deixada para trás”,
poucos meses antes da eleição de
novembro de 2004. As provas da
propina foram exibidas em todas as
redes nacionais de televisão.
Alguns analistas da imprensa ame-
ricana relacionaram a perda de
credibilidade à acelerada queda na
circulação dos jornais nos EUA. Os
mesmos analistas avisaram que a
faixa etária que assiste todos os dias
aos jornais naTVestácadavezmais
alta: menos de 10% da audiência
está abaixo da faixa de 29 anos
(Gitlin, 2005). No Brasil, se existe
estatística sobre isso, ela pertence
aos próprios veículos e não é
divulgada.
A queda de circulação dos jornais é
problema sério, especialmente nos
EUA. A revista
Business Week
publicou matéria, em janeiro de
2005,mostrandoqueo
TheNewYork
Times
estápassandopor processode
“repensar o futuro”. Os desafios
incluem a falta de crescimento de
assinantes, apolarizaçãopolíticanos
EUA e a pressão da Internet, além
de problemas financeiros de várias
ordens. Cada ação do jornal está
sendo negociada, na Bolsa deNova
Iorque,porvalores25% inferioresao
do tetode2002.Depoisdoescândalo
de JaysonBlair, apesar das corajosas
mudanças feitas em várias editorias,
a circulação não se recuperou, au-
mentando apenas 0,2% entre 2003
e 2004. A receita publicitária do
Times
teve um crescimento modes-
to. Amaioria dos leitores lê o jornal
pela Internet, mas 90% das receitas
vêm da edição impressa. O analista
John Batelle, citado pela
Business
Week
, foi duro: “o modelo de
negócio que justifica a produção de
jornalismo de qualidade não está
crescendo e o que está crescendo –
a Internet – não produz dinheiro
suficiente para gerar jornalismo de
qualidade” (Biano, 2005).
Esse processo está longe de ser
exclusivodo jornalmais influentedo
mundo. Os problemas econômicos
dos jornais apressam fusões e
aquisiçõesdeempresasdemídiapor
empresários de outros ramos. Esse
processo afeta diretamente o
conceito de liberdade de expressão
como foi entendido até omomento.
O jornalistaBillMoyers, ex-editordo
Washington Post
, quantificou essas
fusões na imprensa americana e
concluiu que cada uma delas
“empurra o jornalismo um pouco
mais para baixo na hierarquia de
valores sobreoquevemos, lemosou
ouvimos”. Os jornais passaram a ter
mais crime, mais trivialidade e
celebridades emenos debates sobre
políticas públicas, por exemplo.
Moyers mostrou em números o que
dizia:em1977,namédiadosmaiores
jornais americanos, inclusive TV,
uma em cada 3 reportagens tratava
deproblemasdeEstado.Em1997era
uma para cinco. Nas mesmas datas
de comparação, a proporção de
matériascomcelebridadesaumentou
de uma em 50 matérias publicadas
no jornal para uma em 14. Moyers
NÃOHÁDÚVIDAQUEPROBLEMASCOMACREDIBILIDADEDA IMPRENSAVÊM
OCORRENDOHÁANOSNOSEUA.OSPROBLEMASSAÍRAMDOCONTROLE,EM
2001,QUANDOJAYSONBLAIR,LITERALMENTE, INVENTOUREPORTAGENS
FANTASIOSASQUEO
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PUBLICOU, INCLUSIVECOM
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