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julho/agostode2013|
RevistadaESPM
Oembrião
daliderança
Ser trainee não é umstatus, mas umciclo de passagemnecessário
para conectar o jovemao caminho profissional que escolheu trilhar
PorMaristela Guimarães André
“
O
maior talento do ser humano é gestar”. É
o que afirma Ramy Arany, no livro
Visão
gestadora
—
a visão em teia
(Editora KVT,
2008).FundadoradoInstitutoKVT,aautora
defende a tese de que “a natureza trabalha o tempo todo.
Nós, que somos extensão dela, também trabalhamos o
tempo todo, pois tudo é trabalho na visão da consciência
construída,vistoqueaprópriaconstruçãojáéumtrabalho”.
Quando pensamos em projetos pessoais e profissio-
nais, quase sempre costumamos imaginar cenários
bem-sucedidos e com um final feliz. Até aí, nenhuma
novidade. Entretanto, esse futuro idealizado, como não
poderiadeixar de ser, carrega uma série de contradições,
conquistas e avanços do mundo em que vivemos. E aí
está o grande desafio para a construção de uma existên-
cia social plena. Se, de um lado, a aceleração dasmudan-
ças pós-globalização franqueou o universo de oportuni-
dades para que pudéssemos escolher livremente nosso
caminho, de outro, nos lançou num intrincado labirinto
de possibilidades, onde é fácil nos perdermos uns dos
outros e, principalmente, de nósmesmos. Muitas vezes,
diante dessa condição, deixamos de nos reconhecer ou
saber o que queremos. Logo, a indiferença em relação
àquilo que fazemos e as prováveis consequências pas-
sam a liderar nossas escolhas.
O jovem que encerrou seu período de formação pro-
fissional e escolhe ingressar nomundo corporativo por
intermédio de algum programa de trainee invariavel-
mente carregará consigo o melhor e o pior dos tempos
atuais. Terá a agilidade para os deslocamentos rápidos
entre diferentes campos, áreas, setores e linguagens,
mas também a superficialidade das sensações, a tran-
sitoriedade das relações e o imediatismo das ações.
É justamente nessas aparentes contradições da vida
moderna que encontramos algumas pistas que podem
auxiliar o jovema trilhar comalguma segurança o início
desua trajetóriaprofissional. Acompreensãoda transição
entreomundoacadêmicoeouniversoempresarial nãose
resumeapenasemtentar captaranaturezadasmudanças
vivenciadas,mas configurar umcaminhoedar os respec-
tivospassosparatransformarameaçasemoportunidades.
Do ponto de vista das dimensões básicas para o bom
desempenhodo trainee, épossível identificar duas linhas
depensamentonosprogramasdetreinamento:prioridade
nodesenvolvimentodascompetênciasparaaexcelênciado
desempenhono focodosnegóciosdaempresa; utilização
detécnicaseferramentasparaosucessoeamanutençãoda
vantagemcompetitivadaorganização. Emboranãosejam
excludentes ouconflitantes, essas linhas depensamento
direcionamos traineesparaprocessossignificativamente
diversos com resultados nem sempre satisfatórios, por-
queambasestãodesconectadasdeumavisão integrativa.
Osprogramasdetreinamentopropõemdesenvolverum
conjuntocomplexodehabilidades e aptidões, comodina-
mismo,posturaempreendedora,iniciativa,planejamento,
criatividade,bom-senso,facilidadenorelacionamentointer-
pessoal, fluência na comunicação verbal (oral e escrita) e
assertividade. Habilidades essenciais para o exercício da
liderança e das funções estratégicas. Aptidões essas que,
muitas vezes, também são pré-requisitos no próprio pro-
cessode seleçãodos candidatos. Entretanto, quandoava-
liadasdemodo fragmentado, faz comque sedeixede lado
A compreensão da transição entre o mundo acadêmico e o universo
empresarial não se resume apenas em tentar captar a natureza
das mudanças vivenciadas, mas configurar um caminho e os respectivos
passos para transformar ameaças em oportunidades