mesa-redonda
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
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Marcos –
Oempresário industrial brasileiro é umherói.
No caso da química, nós criamos a sexta maior indústria
do mundo sem ter petróleo e sem ter nafta. A energia
elétrica é amais cara domundo. Agora teve essa redução,
que a gente precisa aplaudir, mas continua o dobro do
preçoda americana. Onosso gás custa quatro vezesmais.
E gás é energia. O que é a indústria? Sãomatérias-primas
e energia que são transformadas em alguma outra coisa.
Caiu a produtividade no Brasil? Sim, está caindo, porque
as nossas plantas estão ociosas. O ativo está lá, mas não
temos competitividade suficiente para fazê-lo rodar. Te-
mos uma fábrica em Várzea Paulista [no interior de São
Paulo, perto de Jundiaí]. De Várzea Paulista
até Santos, o frete é maior do que de Santos a
qualquer cidadedosEstadosUnidos, incluindo
o transporte marítimo e o rodoviário lá. Está
realmente muito difícil. Não é à toa que o PIB
industrial brasileiro tem caído. Se a indústria
temgritado, éporqueexisteapercepçãodeque
a indústria não é importante. OBrasil não está
numníveldePIB
per capita
talquepermitaabrir
mãoda indústria. Asaída é umpactonacional.
Mário –
A falta de recursos humanos qualifi-
cados é, semdúvida, nossomaior problema. Éo
nosso gargalo. A gente fornece um software de
gestão para processos seletivos. Então nosso
contatoécomasáreasderecursoshumanosdas
empresas.Seexisteumaunanimidade,élevan-
tar estaquestãocomosendoamais candente. É
onde o Brasil precisa investirmesmo.
Marcos –
Outroaspectoculturalligadoàinova-
ção e que o brasileiro custa a aceitar é a questão
dainovaçãotradicional
versus
ainovaçãoaberta.
A inovação tradicional é aquela [na qual] tenho
todososrecursosnaminhaempresa,fechadosa
sete chaves. Aaberta é aquelaondeusoauniver-
sidade ou o instituto de pesquisa. Neste ano, na
Elekeiroz,vamosquadruplicarosinvestimentos
empesquisaedesenvolvimento,porqueestamos
incentivando a inovação aberta. Se no ano pas-
sado eu tinha zero doutores em física e química
trabalhandoparanós, nesteanovamos ter12. Só
que eles não estão dentro da empresa. Eles estão
na universidade e no instituto de pesquisa. Esse
modelo, vi funcionar muito bem na Alemanha e na Suíça,
países que não abrirammão da industrialização. Funciona
perfeitamente. A Alemanha é hoje o quarto maior país em
indústria química. Apesar de todo o desenvolvimento e do
PIB
per capita
, não abriu mão da indústria e desse modelo
de fazer comque a universidade, o instituto de pesquisa e a
indústria caminhem juntos. No Brasil, a academia é muito
acadêmica e o industrial temmedodela.
Didier –
A história do Brasil é muito de curto prazo. Ao
contrário, a Suíça ou a Alemanha sempre tiveram uma
visão demais longo prazo. Isso faz comque, em termos do
“Existe a percepção de que a indústria não é
importante.Mas o Brasil não está numnível
de PIB
per capita
tal que permita abrirmão
da indústria. A saída é umpacto nacional”
Marcos DeMarchi