março/abrilde2013|
RevistadaESPM
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ethos
das pessoas, o Brasil seja provavelmente o campeão
do mundo do que chamamos em francês de “Sistema D”,
o jeitinho brasileiro. O brasileiro sempre vai achar uma
solução imediata. É ummodo psicológico mais reativo do
que proativo. O brasileiro é muito engenhoso, mas talvez
menos inovador no longo prazo.
Marcos –
Masinovaçãonãoésócriatividade.Obrasileiro
écriativo.Mas, alémdacriatividade, precisa ter processos
para ser inovador.
Marcelo –
Somosapátriadopuxadinho.Asoluçãoexiste,
mas ela é de curto prazo, temporária.
Didier –
Estamos vendo, cada diamais, nesta economia
de rupturas, umespíritodeabertura. ALego, por exemplo,
uma indústria dinamarquesa, tem como plano que 80%
do pessoal de pesquisa e desenvolvimento não estejam
emsua folha de pagamento, não sejamseus funcionários.
A inovação vai ser aberta. Como? Através da criação de
clubes, de uma comunidade orgulhosíssima de desen-
volvedores independentes. Isso sugere um índice de con-
fiança altíssimo. A cultura brasileira, para nós gringos, é
difícil de entender. Os brasileiros são um dos povos mais
sociáveis do mundo. É relativamente fácil ter acesso a
presidentes de empresas, muito mais do que na Europa.
Agora, trabalhar com eles é outra história. O brasileiro é
altamente sociável e altamente desconfiado. Então, para
chegar a essa economia de
open source
, de “fonte aberta”,
vai ser precisoumtrabalhograndeno
ethos
das empresas.
Gracioso –
O primeiro desafio de qualquer gerente é
conquistar a confiança do seu pessoal. Acrescento uma
questão sobre sustentabilidade. Noque isso interfere com
acabeçadosexecutivosque lideramempresas?Érazoável
a pressão, a carga que vemde fora, exigindo cada vezmais
da empresa?Oque é sustentabilidade para vocês, e qual é
nosso papel como administradores da empresa privada?
Marcos –
Sustentabilidade na indústria química é um
tema complicado. Primeiro, é preciso lembrar que sus-
tentabilidade é um tripé. Não é só meio ambiente. É meio
ambiente, oequilíbrioeconômicoesocial. Existemalguns
mitos dentro desse conceito. Um deles é que o povo vai
pagar mais por algo que seja rotulado como sustentável.
Nisso, eunãoacreditoabsolutamente . Pode ter2%ou3%da
populaçãoquepaga,masemgeral vocêpagaomenor valor
e pronto. Isso torna o desafio da sustentabilidade ainda
maisdifícil,porquesignificaqueasoluçãotemderespeitar
omeio ambiente, respeitar o social e ter umcustomelhor
queasoluçãoanterior.Temosdeencarardefrenteessepro-
blema. O que nos fará buscar soluções sustentáveis? Será
a legislação e a descoberta de rotas mais eficientes. Hoje,
fazemos um plastificante que, em lugar da rota normal,
fóssil, usaglicerina, queéumsubprodutodobiodiesel.Não
só a solução émais sustentável do ponto de vista da fonte
de matéria-prima, como também é mais econômica. São
poucos os casos assim. Nosso desafio, como industriais,
é buscar esse tipo de solução. Não existe santo.
Gracioso –
Vocês são realistas a respeito do assunto.
Isso bate comaminha impressão. Tenho conversado, por
exemplo, com advogados. Não sei se vocês sabem, mas
a advocacia ambiental no Brasil está crescendo rapida-
mente e precisa, desesperadamente, de mais advogados
treinados, os quais não existem. As empresas, princi-
palmente as grandes, estão sendo pressionadas por uma
legislaçãoque é umadasmais adiantadas domundo,mas
que, segundo elas, está fora da nossa realidade, fora das
nossaspossibilidades. Issoestá criandoemcada empresa
a necessidade de se proteger contra multas, proibições,
negaçõesdeprojetos. Estáse transformandonumautênti-
co pesadelo. Eu não vejo solução para isso. Anão ser pela
educação, talvez. Isto leva uma geração, mas a próxima
geração estará mais bem preparada intelectualmente
para reagir diante desse problema.
Marcos
–
Existe tambémaquela hipocrisia ambiental.
Eu não vou citar o nome, mas existe um país no qual a
gente para no semáforo e é obrigado a desligar o motor
para não poluir. Isso é muito legal, só que esse mesmo
país não tem limite de velocidade nas autoestradas. É
um
nonsense
absoluto. Realmente, a legislação ambiental
brasileira, emalgunspontos, éextremantepesada. Então,
o industrial acaba desistindo, e a gente vai importar da
China. O sujeito vai poluir lá e, em termos globais, vai
ficar tudo na mesma, mas vai desfazer o emprego daqui.
Que valor isso tem? É preciso ser realista. As leis têm de
ser graduais, têm de dar tempo para a indústria se adap-
tar. Comopormuito tempo se negligenciou tudo, e houve,
realmente,muitos absurdos, terão de nos dar tempo para
dedicarmos tempo para essa coisa toda.