Janeiro_2006 - page 37

Ricardo
Zagallo Camargo
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J A N E I RO
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F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
cios. Suas atividades envolviam as
mais avançadas e variadas fer-
ramentas, incluindo jogos, músicas
e diversos outros sistemas. Seu
discurso empresarial era uma
verdadeira apologia das inovações
técnicas.
A tartaruga observava, com-
placente, toda agitação do
coelho, carregandoacerteza
de que, escondidos por essas mu-
danças, os bichos continuavam os
mesmos. Não se impressionava com
o nascimento e a morte diários das
tecnologias, que para ela não pas-
savam de novos instrumentos para
fazer a mesma coisa: comunicar e
vender. Seu discurso empresarial
desdenhava o poder tecnológico.
O coelho dava um
show
de
interatividade. Em qualquer
plataforma, seusconsumido-
res podiam acessar informações e
produtos onde, quando e como
quisessem. Distraía-se, contudo,
com seusbrinquedinhoseletrônicos
e não dava a devida atenção para
o conteúdo.
A tartaruga primava pela per
tinência e relevância do con
teúdo, mas virava a carapa-
ça, solenemente, para a tecnologia.
Os dois procuravam padrões, mé-
tricas emensagens específicas para
esse novo ambiente marcado pela
convergência e complexidade.
Sentiam que as relações entre os
consumidores e as empresas esta-
vammudadas. Havia uma mistura
de papéis. Ou de
bytes
, já que o
papel, embora ainda amado por
muitos, cedia espaço para suportes
A
concorrência era acir-
rada. Duas empresas dis-
putavam a atenção dos mo-
radores daquele lugar. Um
lugar muito pitoresco, onde a
mídia permanecia em constante
transformaçãoeasnovidades tecno-
lógicas brotavam como capim.
Algumas tecnologias floresciam e
davam frutos, outras ficavam es-
quecidas. Para complicar, os frutos
nem sempre nasciam das mesmas
plantas e uma mesma árvore era
capaz de produzir
games
no verão,
celulares no outono, rádio no
inverno e TV na primavera. Cabos
cruzavam a terra e ondas infes-
tavam o ar. Uma flora riquíssima,
que, vista de cima, formava uma
grande rede que tudo envolvia.
Muito atentas a todas essas trans-
formações, as duas empresas tenta-
vam, damelhormaneira, aten-
der a seus clientes. E isso não
era uma tarefa fácil, pois os
moradores desse lugar tinham
identidades muito flexíveis. Não
se encaixavam facilmente em
perfis ou definições estanques de
estilo
de vida.
Seus há-
bitos de con-
sumo variavam
tanto,quemalpodiam
serconsideradoshábitos.
O coelho,
high tech
, era a
convergência encarnada.
Sempre de orelha em pé,
buscava integrar, num só processo,
informática, comunicação e negó-
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