Mauro Salles
Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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abrir a porta de um Buick para
vocênãosignificanada,maspara
um homem de 120 quilos, como
eu, isso é importante, você não
consegue entrar num Buick de
jeito nenhum... Ele fazia essas
gracinhas, e eu comecei a fazer
as mesmas coisas. Quando fui
fazer o teste de um Dauphine,
escrevi que aWillis poderia ter
tido pelo menos alguma
preocupaçãoemserdiferentedo
Dauphine francês–enão fazera
mesma coisa com aquela caixa
de marcha, que parecia uma
agulha de tricô num pudim de
caramelo, tão solta que ficava...
Oscaras ficavam furiosos,maso
público gostava. Havia um
trabalhoa ser feitoparaaGene-
ral Motors, um trabalho jorna-
lístico-publicitário, eoAltinome
convidou. Eu estava bem preci-
sando de uma grana – eu nunca
fui um bom negociador emmeu
própriobenefício,agoramelhorei
um pouco – e perguntei quanto
ele ia me pagar. Ele perguntou
quantoeuqueria, eeudisseque
ele teriaquedizeropreço, fizum
poucodecharme, tinha feitomeu
calculo, sei lá, deque ia ser dois
eaí oAltinoofereceudez.Nunca
tinhaouvidoumaofertadaquele
tamanho;ele ficoucommedoque
eu fosse negar e subiu para
quinze – eu aceitei logo, antes
quemudassem de idéia!
Foi assim que descobri que
havia um mercado, na propa-
ganda – e que nesse mercado
pagava-se bem. Aí, houve um
outro momento, quando a
Alcântara Machado perdeu a
conta da Volkswagen para a
Proeme (do nosso Otto Scherb).
O José de Alcântara Machado
estavaarrasado...Mesmoassim,
conseguiu,atravésdasboas rela-
ções que tinha com o Corduan e
o Schulz-Wenke [presidente da
VW], manter uma conta que não
existia, pois ficou com a “conta
institucional”. O resto foi para a
Proeme. OAlex e o Corduanme
convidampara tomarumdrinque
no Bar do Jaraguá, que era uma
espécie de sede institucional do
OttoScherbedoCorduan–onde
tomavamunsuísques.Disseram-
me o seguinte: “Temos a conta
institucional,precisamosdaruma
qualidadediferenteevamos fazer
um projeto. Queríamos que nos
ajudasse a recuperar a outra
parte da conta, você topa?” Eu
disse: “Topo, mas só tenho livre
umdiapor semana”Minha folga
era na quarta-feira. “Então eu
vendo para vocês a quarta-feira,
pego o primeiro vôo, das seis e
meiadamanhã,evoltonoúltimo,
que é o das onze da noite,
trabalho o dia todo naAlcântara
Machado”. Fui conhecendo as
pessoas, vendo como se fazia
plano, havia cópia de um plano
da Chevrolet... Fui apresentado,
nodiaseguinte,aoAlfredoCarmo
– tinha também um francês,
ótimo, era genro do que ia ser
Ministro da Fazenda do Paraná.
Ah, e tinha aquele, que foi
planejador naAlcântaraMacha-
do, durantemuitos anos, oHelio
Silveira da Mota, e eu fiquei
impressionado com a qualidade
dos três. “Seéparasero redator
eocoordenadordisso,euentro.”
Eu estava precisando trocar o
apartamento que tinha, de dois
quartos, por um de quatro
quartos, e não tinha o dinheiro.
Então fiz a conta de quanto
precisava para o apartamento,
eramsetemeses, iacomprarmeu
apartamento...E fizo tal trabalho
para ser apresentado ao Juan
Corduan, que dirigia as comuni-
cações da Volkswagen – desse
trabalho, eu até hoje guardo
cópia. Era um plano formidável,
não só para aparte institucional,
mas para a parte de produto, e
tive opurtunidade de dizer ao
Schulz-Wenke,ao insistirqueele
tinhaqueassistiraapresentação,
não só a da conta institucional,
mas da conta de produto tam-
bém.Paraencurtarahistória,não
só foi aprovado, como a conta
voltou toda para a Alcântara
Machado – e eu virei herói. As
pessoas têm pouca lembrança
do José de Alcântara. Dizem:
“Ah,nãoerapublicitário,não,era
só um lobista...” O José de
Alcântara foi um coordenador
formidável,umhomemquesabia
delegar, tinha a visão de buscar
as pessoas certas. A gente não
“N
unca
fui
um
bom
negociador
em
meu
próprio
benefício,
agora
melhorei
um
pouco.
”
“E
u
tinha
uma
coluna
sobre
automóveis
e
aviões
n’
OGlobo
.”