Janeiro_2003 - page 91

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RevistadaESPM– Janeiro/Fevereirode 2003
mostravam o Lula sempre na frente:
desde fevereirode2000atéo final da
campanha em 27 de outubro, ele
sempre liderou as pesquisas. Nunca
esteve em segundo lugar, a rejeição
semprecaindo.
JR – O Serra foi para o segundo
turnocomocandidatodogoverno,
enquanto o Lula – que já era
candidatodaoposição–capitalizou
oseleitoradosdosoutrosdois,que
sempre se disseram de oposição.
Foi uma atitude suicida do
candidato do governo tentar dizer
que não o era. Ele ficou sem
discursoparaosegundo turno.
CM – Foi uma campanha cinzenta
porqueelenuncadeixouclaronemo
preto e nem o branco. Ele falou, o
tempo todo,emmudançaquando,na
verdade,haviamuitacoisa interessante
nogovernoFHC,queacabounãosendo
apresentada.E–se
eraparaprevalecer
a mudança – eu
acho que o eleitor
preferiuamudança
total. Via-se, já no
primeiro turno, que
os candidatos da
oposiçãosomavam
77%eoSerra23%.
No segundo turno,
ele chegou a 38%.
Esses15%,queele
ganhou, acho até
que eram pessoas
que tinhammedo
do PT ou tinham
medodoLula.Não
foi um voto pró-
Serra.Pessoasque
votaram contra o
governonoprimeiro
turno ficaram com
receiodeumgover-
nodoPT.
JR–Porquede-
vemos conti-
nuar fazendo
eleições – que
são tão caras –
se a pesquisa é tão precisa, em
termosdepreferênciadapopulação?
Por quesimplesmentenãonomear
umpresidenteatravésdapesquisa?
CM – Nem de brincadeira. Nunca.
Primeiro, a pesquisa não é infalível.
Segundo, ela dá uma tendência; é
mais uma informação para o eleitor,
durante a campanha. Amídia é que
tem um papel fundamental. Aliás, a
mídia brasileira – as redes de
televisão, as rádios noticiosas, os
jornais, asgrandes revistas–estáde
parabéns, pelo espetáculo de
democraciaquedeunessaseleições:
de abertura, espaço, debate,
entrevista, tudo. Como brasileiro,
senti–me orgulhoso. O Brasil ficou
tanto tempo sem eleições, que, hoje
emdia, dáaulaparaomundo todo.O
desempenhodoTSE foi fantástico,as
urnaseletrônicasderamum
show
.
JR–Vocênãoachaque,naorigem
dessaqualidade,estãoosbancos?
CM–Por quê?
JR–PorquenoBrasil –pelassuas
característicaseextensãoterritorial
– os bancos se anteciparam ao
governo, pelas necessidades de
atuaçãonacional –ogovernoatua
muitoatravésdosbancos.
CM – Pode ser. Mas o Brasil tem
coisas realmente fora de série. No
sistema eleitoral, ele é um dos
primeiros do mundo. Agora, não
podemossubstituirnunca;apretensão
dapesquisaéajudar oscandidatosa
informar a população sobre o placar,
como está o jogo etc. Não decidir o
resultado.
JR–Entendo.Comodiretordeuma
empresa que faz pesquisa, você
não tem interesse em posar de
onipotente. Mas, no duro, o que é
uma eleição? É uma grande
pesquisa. Um censo. Um levanta-
mento das preferências da popul-
ação. Se você tem outra forma de
fazer esse levantamento, sem
precisar tiraraspessoasdecasa…
Deixe-me dar um exemplo: vamos
supor que todas as pessoas do
Brasil tivessem um terminal de
computador na sua casa. E você
divulga o seguinte: Amanhã, a tal
hora, todo mundo vai até o
computadorevota.Vocêconcorda
queseriapossível?
“O Institutoque
manipular qualquer
resultado–e isso
for comprovado –
fechaasportasno
diaseguinte.”
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