RevistadaESPM– Janeiro/Fevereirode 2003
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CM – Existe muita gente que não
acreditaempesquisa. Issoénatural.
Mas, com relaçãoàmanipulação, eu
acho que o Instituto que manipular
qualquer resultado – e isso for
comprovado– fechaasportasnodia
seguinte. É mais fácil, antes de
manipular, vender asuaempresa, do
que fazerumacoisadessas.Qualéo
patrimônio de um Instituto de
Pesquisa, especialmente na área de
audiência e de pesquisa eleitoral? É
acredibilidade.Aomesmo tempo, os
errosocorrem...Apesquisapolíticaé
aúnicaemquesepodemcomprovar
os resultados 20 horas depois. No
resto, a comprovação émuito difícil,
pois o IBOPE, esse ano, deu muita
sorte. Fezpesquisasnos27Estados
e não houve problema. Isso é raro,
tivemosatéumpoucodesorte.Sese
fazem os 27 Estados e o Brasil,
obrigatoriamente, você deveria ter
problemaemumououtro. Às vezes,
umEstado temmuitos indecisos,que
decidemem cimadahora. Eagente
não faz boca de urna em todos.
Quanto à influência da pesquisa na
própriaeleição jáestáprovadoqueé
zero.Oqueeuachoéqueapesquisa
pode ter uma influência indireta. Por
exemplo, nas capa de revistas, no
espaço da mídia. Amídia gosta de
dedicar espaço aos candidatosmais
bem colocados. Segundo, o
financiamentodecampanhas.Osque
investempreferemosqueestãomais
bem colocados. Na coligação de
partidos: o que está mais fraco faz
coligação comoqueestámais forte.
No ânimo ou desânimo dos cabos
eleitorais. A cada divulgação, há os
que comemoram mais. Agora,
influenciar o eleitor a votar em quem
estáemprimeiro, issonãoexiste. Se
fosseassim,quemsaísseemprimeiro
terminaria em primeiro. Veja as
eleiçõesemSãoPaulo.OMaluf saiu
emprimeiro, passoupara segundoe
terminouem terceiro.NoRioGrande
do Sul, oAntonio Brito começou em
primeiro, depois o Tarso Genro e
depois o Germano Oliveto em
primeiro.Então,que influênciaéessa?
O que decide é campanha, comício.
O caso do Ciro Gomes ele:
aproximou-sedoLula,osdois ficaram
no patamar de 30% e o Serra e o
Garotinhonopatamarde10%.Oque
provoca as mudanças? Comícios,
denúncias, frases infelizes,nocasodo
Ciro; fotos de dinheiro em cima da
mesa,nocasodaRoseana. Issoéque
faz a campanha: o programa de
televisão, omarketing. Apesquisa só
vematrás, fotografando.Oeleitorque
ia votar noCiro, de repente, desistiu,
por causa de alguma coisa que ele
disse,ouachouquefaltouconsistência.
Apesquisamostrousimplesmenteos
30%edepoisos12%.Agora,achoque
oMillor – queparamiméumgênio–
exprimeumpoucoa incredulidadeque
aspessoastêmemrelaçãoàpesquisa.
Masacho tambémque issoéculpada
faltadeexercíciodemocráticodurante
os quase 30 anos de uma ditadura
muito longa.Acadaeleição,obrasileiro
dáprovasdematuridade.Elevotouem
89.Errou.Depois,votouem94.Achou
queoprimeirogoverno foi bom, votou
de novo nele, em 98. Agora, queria
mudança.Mudou.
JR – Você foi citado, no jornal,
como tendo dito ao presidente
FernandoHenriqueCardoso–dois
anos antes da eleição – que o
governo iaperder.Vocêconfirma?
CM–Confirmo.Atéébomesclarecer
como aconteceu isso. Em agosto de
2001, fui chamado pelo Andrea
Matarazzo–SecretáriodeComuni-
cação – para ter um almoço com o
Serra, que era Ministro da Saúde
e pré-candidato do PSDB. Ele
queria uma análise minha, sobre as
pesquisasqueestávamos fazendoem
2001. Então mostrei a eles que o
desgaste do governo era muito
grande. A avaliação do FHC estava
muito ruim. Qualquer candidato do
governo teria dificuldade. Dei o
exemplodosapatovelho,aqueleque
você usa 10 anos, deu seis meias
solas, já costurou… Vem uma hora,
que temque jogar fora.Aíperguntam:
“Mas você não gostava do sapato?”
Tanto gostei, que usei muitos anos.
Masagora,souobrigadoa trocar,não
dá mais. Expliquei tudo isso e eles
concordaram. O Andrea perguntou-
me se me incomodaria de repetir o
diagnósticoaopresidente?”Disseque
não. Elemeperguntouseeupoderia
ficar láà tarde.Então, primeiro foi um
almoço com o Serra e, no final da
tarde, fui aoPaláciodoPlanaltoonde
tiveumaconversadeumahoraemeia
com o presidente – o Andrea
Matarazzo estava presente, o Serra
não–eeu repeti tudo. Opresidente
concordou.Naépoca,ogovernoainda
não tinha candidato. Havia o Paulo
Renato, oTarsoGereissati, opróprio
José Serra, o Aécio. Muitos pré-
candidatos. Mas eu dizia que –
independentedocandidato–a figura
do governo contra alguém da
oposição, iasermuitodifícilogoverno
prevalecer.Ninguémagüenta14anos
–oBrasil já tevemuito tempo coma
ditadura. De fato, o Fernando
Henrique foi, dois anos, primeiro
ministro e depois mais oito anos de
governo. Teve uma fase boa, depois
caiu, até em função de várias crises
que não foram de sua responsa-
bilidade. Não era difícil esse
prognóstico. Nunca quis passar por
futurologista. Tratava-se de uma
avaliação – sempre em cima de
resultadodepesquisa–quemostrava
que60%dapopulaçãonãoestavam
contentes com o governo, não
estavam contentes com o Fernando
HenriqueCardoso. E, por outro lado,
“Com todosos
problemasque
temos,mesmo
assim, estamos
entre as 25maiores
empresasdo
mundo.”