Janeiro_2009 - page 105

HermanoRoberto
Thiry-Cherques
janeiro
/
fevereiro
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
105
estes temas. A principal delas,
Sys-
tème de la nature
, (2008) de 1770,
traz uma concepção naturalista do
homem e da sociedade. Consiste
no censo dos três reinos: mineral,
vegetal e animal. Estabelece um
sistemadeclassificaçãoaoqual Li-
neu recorreuparadefinir ohomem
como “animal racional”.Teveonze
edições em vida do Sr. Thiry, mas
causou transtornos.
Na época da publicação do
Sys-
tème
, ele já era conhecido pelo
seu anticlericalismo e pelo seu
ateísmo. Havia atacado a Igreja
e ao clero, mostrando como os
que servem à religião, na verdade
dela se servem. Contra o teísmo,
a doutrina filosófica que afirma a
existência de um deus vivo e pes-
soal, causa do mundo, e contra o
deísmo, que se atém a afirmar a
determinaçãopela razãodeum ser
transcendental, oSr.Thiryabraçava
francamente o ateísmo, a doutrina
que nega a existência de um deus.
Ele foi um dos primeiros a fundar
uma filosofia materialista sobre
a base das ciências da natureza.
Acreditava que toda explicação
de um fenômeno deve se basear
somente na consulta àmatéria, a
seus movimentos e às leis desses
movimentos (Araújo; 2006; 62).
O problema que ele se criou
deriva da forma absolutamente
lógica, mas atrevida como expôs
o seu materialismo.
O Barão passou dos limites não
por ter defendido o ateísmo, mas
por tê-lo deduzido logicamente.
Explica-se: quando inferimos que
pessoas com omesmo sobrenome
são parentes, estabelecemos uma
premissa com base no conheci-
mentoque temos danossacultura.
Quando cruzamos os dedos para
evitar queo avião caia, induzimos
a partir de um fatoparticular: ode
que até aquele momento nenhum
avião caiu conosco dentro dele
cruzando os dedos. Mas quando
afirmamos que nada vemdonada
e, portanto, o mundo é eterno,
criamos uma premissa válida e
incondicional que anula a divin-
dade. O Sr. Thiry poderia ter-se
contentado com o agnosticismo,
aposiçãodaqueles que sustentam
que não é possível saber se existe
um deus ou não. Mas ele proce-
deuaumadedução, tecnicamente
perfeita, domaterialismo ateu.
Ao derivar da premissa da exis-
tência eterna do mundo a confor-
mação da natureza, o Barão não
perpetrounadadenovo.Oateísmo
materialista foi descrito por Platão
(1981; Leis, X, 891c; 892b). Reza
que a natureza precede a alma e a
matéria precede o entendimento.
Convicçãoqueeliminaadivindade
como princípio metafísico, uma
vezqueadmiteamatériacomo tal.
Alémdisto,oSr.Thirynãoestava só.
Sãopelomenosquatroasdeduções
ímpias sobre a origem do mundo
(Rossi; 1992; 47-52):
A
inferência
éaoperaçãopelaqual
seadmiteaverdadedeumaproposi-
çãograçasàsualigaçãocomoutras
proposiçõestidascomoverdadeiras.
A
indução
éoraciocínioqueparte
de dados particulares, e, por meio
de uma sequência de operações
cognitivas,chegaaleisouconceitos
gerais, indodos efeitos àcausa,
das consequências ao princípio,
da experiência à teoria.
A
dedução
éumraciocínioquederiva
umaconclusãodepremissas.
A
abdução
éabuscadeumaconclu-
sãopela interpretaçãoracionalde
sinais, de indícios, designos, comono
casodoscontospoliciais.
Inferência
Indução
dedução
Abdução
î
1...,95,96,97,98,99,100,101,102,103,104 106,107,108,109,110,111,112,113,114,115,...120
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