Maio_2003 - page 62

Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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mesa-redonda
Celso –
Ao invés de falar em
consumo, faleemdesejo.Emcada
segmento há desejos diferentes.
QualéodesejodaclasseC,DeE?
São aspirações de consumo de
coisas bemmais elementares do
que as de um intelectual urbano.
UmapesquisafeitapeloProconde
São Paulomostra que as classes
C, D e E aspiram a um plano de
saúde,casaprópria.Aopassoque
aclasseAaspiraabensmateriais,
mais liberdade, auto-realização.
Nestapirâmide,existeumaporção
denichosdeconsumo.
René –
Gostaria muito de
conheceressaclasseAquebusca
auto-realizaçãoe liberdade. Acho
queaclasseA, noBrasil, aindaé,
em grande parte, dividida entre
pessoas miméticas, que buscam
copiar o que há de maior em
termos de grife e luxo no planeta
e,poroutro lado,umaclasseAque
busca o conservadorismo. Esse
tipodeauto-realização, que, num
estudo antigo feito nos Estados
Unidos–oVALS (Values and Life
Styles) –equeéaindausadopor
muita gente seria um tipo de
consumidor chamado “transfor-
mador”. Eu duvido que nossa
classeAestejanesseponto.
Celso–
ApesquisadoProcon,em
2001,estabeleceu:Paraasclasses
DeE,qualidadedevida,consumo
significa ter acessoàsnecessida-
des básicas. As necessidades da
classe B são diferentes das
necessidadesbásicasdasclasses
C, DeE. Paraa classeA, osbens
de consumo não bastam para a
qualidade de vida. Eles querem
liberdade, auto-realização, felici-
dade, que é algo mais imaterial
ainda.
René –
Ainda respondendo à
pergunta,euachoqueobrasileiro
é o povo mais consumista do
planeta e o que mais deseja é
inserção no que as classes
superiores têm de bom. Na
ausência de renda, ele abremão
dos produtos mais essenciais –
leite em pó, escola das crianças
etc. Éum tipode consumidor que
almeja em primeiro lugar a
ascensão.“Dê-meosupérfluoque
abromãodoessencial”,umafrase
de Bernard Shaw. Os cenários
mostramfavelascomparabólicas,
videocasseteeumasériedebens
declassealtaeessemesmopovo
nãotemassistênciamédicabásica
daUnimed,quecustaR$20,00por
mês. Mas paga a prestação do
celular, dosbensdeostentação.
Celso–
Mas você acha que isso
é brasileiro ou é humano? Você
citouBernardShaw.Deixe-mecitar
JomoKenyatta.JomoKenyattafoi
o primeiro presidente do Quênia,
líder mau-mau. Quando ele
assumiu a presidência, deu uma
entrevista na qual dizia ter muito
mais medo de um comercial da
Coca-Cola , como potencial
subversivo ao país, do que do
Partido Comunista. O Partido
Comunista ele sabia controlar, mas
nãoodesejodapopulaçãopobredo
país, com aquele “universo de
felicidade” colocado num comercial
da Coca-Cola. Então, esse desejo,
essa aspiração por uma vidamelhor
é humano. E quanto mais pobre a
população,maissuscetívelaodesejo
em relaçãoaessesbensmateriais.
Gracioso–
OqueacontecenoBrasil
eemoutrospaíseséque,nasgrandes
cidades,osmaispobresestãosujeitos
à propaganda e outras formas de
estímuloaoconsumotantoquantoas
classes mais ricas. Você vai ao
shopping
– emSão Paulo ou no Rio
de Janeiro – e vai ver, lado a lado,
todas as classes. Os
shoppings
raramentesãoseletivos.ATVnunca
é seletiva. Eu acho que isso que o
René chama de “brasileiro consu-
mista” é justamente o reflexo desse
bombardeamento dos estímulos ao
“ClasseC/D, vai
desde
aclasse
C/D
conservadora
atéoC/D
boy
de
escritório
que
pagaumou
dois
mil
reais
porum
celular
.”
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