Maio_2003 - page 63

Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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Asmarcas na encruzilhada
consumo que, por outro lado, não
encontram respaldo no poder
econômico.
René–
Que, aliás, deacordocomas
estatísticas de Secretaria do Bem-
estar doMenor – deve ser uma das
principais razões do altíssimo índice
de violência urbana. Porque o índice
de violência não é umbilicalmente
ligadoàpobreza.
Gracioso –
Prova é que o item
preferido dos assaltantes mirins é o
tênisdavítima.
Lívia–
Achoessa visãonegativado
consumobastantepreconceituosa. O
consumonãoéum fimemsimesmo.
Eleésempreuma formademediação
–construçãode identidade,exclusão,
inclusão, expressão de aspirações e
desejo. Não é um fim; é ummeio. A
idéia de que uma sociedade de
consumo é uma sociedade
materialista também é um
equívoco. Se a sociedade de
consumo fosse profundamente
materialista, ela tenderia a
acumular bens. Mas um dos
grandes problemas no mundo,
hoje, éo lixo, porqueodescarteé
quase tãograndequantoa taxa
de consumo. Então, as
pessoas estão dizendo
outras coisas através do
consumo. Elas não estão
querendo acumular, ente-
sourar bens; elas estão
querendo comunicar, trans-
mitir informações, fazer
mediações. Ninguém vai à
praiaparatomarcerveja.Ena
praiaseconsomecerveja.Você
vai àpraiaparasesocializare, ao
longo do processo, você
consome cerveja.
Então, acho que con-
sumoéumaprofundamediaçãode
outras coisas. O que são essas
outras coisas é que precisamos
explorar.Oqueoconsumo–como
processosocial–nosensinasobre
a sociedade contemporânea?
Temospouquíssima investigação
sobre isso, por exemplo, no que
toca à sociedade brasileira.
Outro ponto é que o que essa
pirâmide de Maslow mostra
sempre foi uma ficção e serve
apenas para “moralizar” o
consumo das classes A e B e
também das classes C, D e E.
JR–
Emquesentido?
Lívia –
De dizer o que eles
deveriamestar consumindo. Uma
definição aceita na sociedade
contemporâneaéadenecessida-
des básicas e supérfluas. Na
verdade, depoisdeummínimode
reprodução básica da vida,
qualquernecessidadeésupérflua,
equalquernecessidadeécultural,
numcertosentido.
JR–
Issoécaracterísticadanossa
sociedade?
Lívia –
Não. A pirâmide de
Maslow é uma lição porque, na
verdade,nuncaninguémnomundo
consumiu conformeMaslow e os
cursos de marketing ensinam. A
evidência etnográfica contraria
isso. Se as pessoas estivessem
morrendo de fome, não teriam
antenaparabólica.Mas, nanossa
visão, achamos queelas têmque
ter uma ordenação. Por isso que
digoqueéumaformademoralizar
oconsumo.
JR–
Mas, vocêmesmadisseque
se elas estivessemmorrendo de
fome, não comprariam antena.
Então, se elas consomem antena
é porque não estãomorrendo de
fome.
Celso –
Há um pequeno viés
nisso. Tanto a antena parabólica
quanto o telefone celular estão
popularizadosporumaquestãode
reduçãodecustos, nasempresas,
edeumtrabalhodemarketingbem
feito, de popularização desses
produtos. Há um fator racional
nisso, um fator administrativo.
Lívia–
Simenão.Sim,porqueele
foi popularizado. Efetivamente,
houve um trabalho. Mas uma
pessoa que ganheR$ 500,00 não
precisa comprar um celular deR$
2.000,00, como alguns fazem. Os
custos baixaram e houve uma
popularizaçãodesseproduto.Mas,
dentrodesteprodutopopular,você
tem pessoas que, pela lógica
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