Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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mesa-redonda
dizqueháumanecessidadeainda
mais importantequeafisiológica.
Está abaixo da própria
necessidade fisiológica, que ele
chama de espiritual. Não
religiosa; espiritual. Ele mostra
que há uma grande diferença
entre duas pessoas embaixo da
ponte – as duas morrendo de
fome.Aque tem féaindaécapaz
de pedir alguma coisa – isso
aconteceu nos campos de
concentração –, e a outra
sucumbe. Esse ponto é
interessante.Deum ladoestãoas
necessidades de desenvolvi-
mentohumano. Dooutro lado, o
desejo. Realmente, o desejo de
prazer do ser humano é infinito,
no planeta Terra. E aí vêm as
religiõespara tentarmascararos
desejos com as proibições que
vemos na religião judaica, cristã
e islâmica. Mesmo a religião
budista – que é meio uma
filosofia–colocaoNirvanacomo
centro de tudo. E aí o consumo
não vai em cima do essencial,
cuja demanda é inelástica.
Ninguém–commais renda–vai
consumir três pares de
Havaianas, colocar mais sal na
comida oumais açúcar no café.
Ademandaéelásticaemcimade
bens supérfluos. Você não
anuncia um
shampoo
que lava
melhor o cabelo; todos os
shampoos
lavam bem o cabelo.
Só que os
shampoos
são
posicionados para deixar os
cabelos mais sedosos, mais
brilhantes,maissoltoseamulher
mais fantástica. As cervejas
tambémnãosãoanunciadaspara
isso, os sabonetes não são
anunciados para lavar melhor a
pele. Então, os produtos – em
grande parte – delimitam-se
sobre os desejos humanos e os
desejos de todas as pessoas têm
a ver com felicidade ou prazer.
Talvez seja o caso de uma
discussão,nofuturo,sobreotema:
“Seráqueesseconsumocadavez
maior leva a mais prazer?”. E a
metáfora desse consumo, dessa
busca,éoaumentoexponencialdo
consumo de drogas. No instante
em que você tem um fornecedor
muito bem armado – como as
sociedades muito bem armadas,
em termosdeprodutos, no
bom sentido –, surge
o consumo das
drogas, que dão
prazer infinito.
Celso –
Existe um consumo de
sobrevivência e existe um
consumo que atende às necessi-
dadesbásicasdoserhumano.São
asnecessidadesrelacionadascom
a sua existência, sobrevivência e
que preenchem os desejos
elementares–comer,dormir.Ehá
o consumo hedonista. Esse não
tem fim.Quantomaisevoluído for
o ser humano, mais ampla é a
gama de necessidades que
existirão e que precisam ser
preenchidas.
JR–
Vamos voltar aoBrasil e ao
consumidor brasileiro. Aparente-
mente, todos concordam que o
brasileiroéextremamenteconsumista
e voraz, no seu comportamento de
consumo.Maseu li umaobservação
do Jaime Troiano que disse o
seguinte: “Obrasileiroéconservador
no seu comportamentode consumo.
No Brasil, mais de 70% dos nossos
produtossão lançadossobabandeira
demarcas jáexistentes”.Gostariade
que vocês comentassem essa
observação.
Avelar–
Nadaaver, umacoisacom
outra.
JR –
Mas se o brasileiro tem o
comportamento de tornar tudo
descartável, eleestaria fazendouma
antecipação de consumo. Por que
essecomportamentoconservador?
Celso–
Eunãoestouconvencidode
queobrasileirosejaesseconsumidor
vorazquevocêsapresentam.Podeser
queseja,masnãomeparecequeele
seja,realmente,umconsumidorvoraz.
JR –
Nosso consumo
per capita
é
“Tinha
mais
medodeum
comercial
da
Coca-Cola–
como
potencial
subversivoao
país–doquedo
Partido
Comunista.
”