Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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Asmarcas na encruzilhada
baixo.
Avelar –
Falei de comportamento e
atitudes; nãodenúmeros.
Celso –
O que dá a certeza de que
essaatitudeexiste?“Ah!Obrasileiro
é voraz, é conservador”. São
observações subjetivas, quando a
gente confronta com outros dados –
como, por exemplo, esse de que o
brasileiro não tem renda para ser
voraz. Mas, ao mesmo tempo, 160
milhõesdeconsumidores–oumesmo
40 milhões – fazem uma enorme
diferença.
Gracioso –
Talvez estejamos
impressionados por alguns exemplos
isolados, de consumo demassa, que
são poucos e não justificam afirma-
ções desse tipo. Na verdade, nos
últimos anos – logo depois do
PlanoReal, quando ainda havia
um clima de otimismo genera-
lizado no Brasil –, algumas
empresas acharam que pode-
riam trazerparacáasnovidades
de outros mercados. Lançaram
muitosprodutosnovos, quenão
deram certo – amaioria ou foi
retirada ou está patinando. No
Brasildehoje,parecequenão
temos capacidade
para absorver
novos produtos,
como
outros
mercados media-
mentedesenvolvi-
dos ao redor do
mundo. As em-
presas que tenta-
ram isso–deuma
formaoudeoutra
– recuaram um
pouco. Então,
onde é que está
esse
consu-
mismo?
JR –
Tivemos um fator econô-
mico. Há cinco anos, a moeda
brasileira tinha um poder de
compraequivalenteaododólar.
E esse poder de compra baixou
para 1/3, pois as rendas dos
consumidoresnãoaumentaram.
E temosmultinacionais, noBrasil,
que apresentam seus resultados
para as casas-matrizes em
dólares...
Gracioso–
Aísecolocaodilema.
Em sociedades cada vez mais
urbanizadascomoanossa,comas
mulherestrabalhandoforaetendo
necessidades de produtos mais
práticos,quepoupemtempoeque,
naturalmente, custaram mais.
Quemvaicompraressesprodutos,
se o consumidor está cada vez
maispobre?Ecomo resolveresse
problema?
Lívia–
Achoquea intervençãodo
Prof. Gracioso foi pertinente e
retoma um tema que é a relação
entre consumo e cultura. Nós
tendemos a ser consumistas – e
concordocomoCelsodequenão
há nenhuma evidência empírica,
porquenãohánenhumapesquisa
ouevidênciaquedemonstremisso.
É uma impressão muito mais do
que uma constatação empírica.
MasoBrasil éopaíscomomaior
númerodemultinacionaisemtodo
omundo.Eachoqueo importante,
nessa relação consumo X cultura
– e que é zero explorado pelas
empresas – é o grande potencial
queestáànossa frente.Qualquer
produto,qualquer inovação,quan-
do entra, não encontra um vácuo
cultural. Ela vai interagir com
produtos e serviços que já estão
alie issoformaumsistemaaberto.
Quando essas empresas chegam
com esses novos produtos e eles
não são aceitos, é porque uma
pesquisa etnográfica básica não
foi realizada–quepermitequese
entenda qual o sistema de
consumoondeeu,empresa,estou
inserido. Vou dar um exemplo na
área de alimentação. Aliás, acho
“Esse
bombardeamento
dosestímulos
ao
consumo
não
encontra
respaldo
no
poder
econômico.
”