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R E V I S T A D A E S PM–
M A R Ç O
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A B R I L
D E
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exportar café solúvel, torrado... Em
vez de exportar tanto couro,
aumentaropercentualdesapato;em
vez de estarmos nos produtos de
baixovaloragregado, entrarmosnos
patamares mais elevados. Mesmo
porque vamos sofrer uma grande
concorrência da China. Se nos
entusiasmamosmuito com a China
compradora – ela nos comprou
muita soja, minério de ferro – vi-
veremos, nos próximos anos, aChi-
na exportadora, e precisamos estar
preparados. Nos setores indus-
trializados, encontrarmos nosso
nicho de exportação, que não é
necessariamentedealta tecnologia;
mas também não pode ser a faixa
de mão-de-obra barata porque,
nessa, nós perdemos.
JR
–É lícitoesperar umaumentoda
participação do Brasil no comércio
internacional como um todo?
SERGIOAMARAL
– Isso fazparte
da lógica do nosso modelo eco-
nômico: ser mais produtivos, com-
petitivos, melhorar a infra-estrutura
e fazer um esforço exportador; é
razoável esperar que cresça nossa
participação no comérciomundial.
Mas épreciso, também, umesforço
macroeconômico. Pensamos que a
Chinaésómão-de-obrabaratae isso
nãoéverdade.Trata-sedeumaeco-
nomia com taxade inflaçãode2%,
carga tributária de apenas 16% do
PIB e poupança de 43%. A China
demonstrou uma compreensão do
funcionamento da economia de
mercado melhor do que muitos
países que a praticam há mais
tempo. No ano de 2003, empresas
chinesasgastaramUS$3bilhõespa-
ra adquirir o controle de empresas
na Europa. E oque faziam? Conser-
vavam a pesquisa, o marketing, a
marca, distribuição – e transferiam
aproduçãoparaaChina. Eles já sa-
biamquenãobasta terumbompro-
duto; é preciso ter o marketing, a
pesquisa, distribuiçãoe, fundamen-
talmente,amarca.Nosúltimosanos,
nossosesforçosdeexportação foram
bem-sucedidos. Hoje, precisamos
cuidar de componentes como o
marketing – que é fundamental.
JR
– Isso é música para meus
ouvidos, poisoSr. está falandopara
a
RevistadaESPM
.Masomarketing
leva-nos à questão da imagem de
marca–edoque foi definidocomo
a“marcaBrasil”.OSr.podenos falar
a esse respeito?
SERGIO AMARAL
– Houve pes-
quisas interessantes sobre marcas.
Uma delas mostra correlação entre
a imagem do país desenvolvido e a
boa qualidade; e a imagem de um
país em desenvolvimento leva à
idéiadeumamarcademenor pres-
tígio. Não temos condições demu-
dar o país para atender às expec-
tativas dos consumidores interna-
cionais. Como a nossa marca não
carregaomesmovalor queamarca
de um produto francês ou ameri-
cano, onossoprodutoévistocomo
menos seguro, menos eficiente ou
menos durável e, – por isso – tem
de sermaisbarato. Partimosdeuma
desvantagem – temos de vender
mais barato, dar garantia ou finan-
ciamentomaiores, além das nossas
reais condições.
JR
–OSr. achaqueexiste,namente
dosnossosclientespotenciaisnesses
países – de fato – uma imagem do
Brasil que se reflete nas nossas
marcas?
SERGIO AMARAL
– Sim. E diria
queelaé, emgeral, positiva.Houve
tempo em que a nossa imagem era
associada ao desflorestamento da
Amazônia, ao trabalho infantil, à
prostituição infantil. Mas o Brasil
progrediumuito, temos conseguido
desfazer essa imagem. Hoje goza-
mos de respeitabilidade no campo
daeconomia; demosmostradema-
turidade, no campo da política;
estamos enfrentando os nossos
problemas sociais–ninguémespera
queagente resolva tudodanoitepa-
raodia,masquerem saberqueesta-
mosenfrentando. Isso tudocontribui
para uma imagem positiva. Mas eu
acho que o problema não é de
imagem,masde faltade informação:
as pessoas gostam doBrasil porque
tem praias bonitas, povo alegre,
carnaval, futebol de grande talento
– e só sabem, muito vagamente, de
outrascoisas.Nãosabem,porexem-
plo, que temos capacitação tecno-