Sergio
Amaral
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M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 5 – R E V I S TA DA E SPM
lógica para construir satélites e que
a Amazônia é vigiada por satélites
que fotografamos riscospotenciais;
poucos sabem que somos a quarta
indústriaaeronáuticadomundo.Há
outro lado do Brasil que as pessoas
não conhecem: um povo sério e
trabalhador.Trabalha-semuitomais
aquidoquenaEuropa,porexemplo.
O problema da imagem é, de um
lado, desfazer a imagem associada
aos países em desenvolvimento –
mas, mais do que tudo, dar mais
informação.
JR
– O Sr. acha que existe uma
associaçãoentrea imagemnacional
e a qualidade dos produtos e ser-
viços?
SERGIOAMARAL
– Sem dúvida.
Se você for comprar um marca-
passo,eovendedorofereceum feito
naChina eoutrona Suíça, você vai
escolher o que é feito na Suíça –
porque a imagem ligada à do
relógio, da precisão...
JR
– E se for francês? Um marca-
passo francês pode ser bom.
SERGIO AMARAL
– Porque a
França também temuma imagemde
qualidade. Agora, se a Índia quiser
vender marca-passo, enfrentará
desconfiança.Quandoeraembaixa-
dor emLondres, fui convidadopara
um evento cultural na embaixada
suíça.Oeventoeranagaragem:uma
noitedegrafite. Jovensartistassuíços
e franceses fazendo grafite nas
paredes da garagem. Pensei: “Que
interessante. A Suíça tem uma ima-
gem positiva, do ponto de vista da
tecnologia, mas tem outra, não tão
positiva,depaísvelho, semgraça...”
Eoembaixador suíçodescobriuuma
forma de trabalhar essa imagem,
mostrandoque lá tambémhácoisas
novas, jovens, arte de vanguarda.
Essa é a questão da imagem do
Brasil. Temos uma imagem simpá-
tica, mas que nem sempre ajuda a
vender os nossos produtos – a não
ser os associados a essa idéia tradi-
cional:músicabrasileiravendebem,
cinema brasileiro é apreciado. Mas
nãoprodutosdealta tecnologia.Mas
há outros aspectos. Se exportamos
um carro da marca Volkswagen, a
marca é forte, seja produzido onde
for. Se queremos vender mais pro-
dutos manufaturados brasileiros,
teremos que trabalhar a imagemdo
país, ter uma estratégia de penetra-
çãonomercadoquenão incluaape-
nas as questões econômicas, de
qualidade, distribuiçãomasque têm
avercomamarcadoproduto.ANa-
tura está fazendo isso em Paris e no
Japão, e muito bem feito, porque
associaram o nome deles, Natura, à
Amazônia e criaramum show room
queéuma reproduçãodaAmazônia.
JR
– O Sr. pode relatar algumas
experiências recentes, em relaçãoa
isso?
SERGIO AMARAL
– Um esforço
importante é o que está sendo feito
agora, para o ano cultural doBrasil
naFrança.ÉumprogramadaFrança,
que existe há 20 anos: a cada ano,
um país é escolhido para ser o país
do ano e os espaços culturais fran-
cesesoacolhem.Nósestaremospre-
sentesnosespaçosmaisprestigiosos
de Paris e outras cidades, teremos
umavariedadedeeventosculturais,
nosmais diferentes campos.
JR
–Como isso funciona?
SERGIOAMARAL
– Há dois co-
missários – um brasileiro e outro
francês – responsáveis pelamonta-
gemdas exposições.Nocasobrasi-
leiro, éoMinistériodaCultura, com
a participação do Itamaraty, sobre-
tudo da embaixada, SECOM, na
comunicação e outros ministérios,
como IndústriaeComércio,naparte
comercial. Insisti com esses minis-
térios para que o ano cultural fosse
também uma oportunidade de
mostrar produtosbrasileiros, jáque,
evidentemente, isso contribui para
melhorar a nossa imagem de quali-
dade. Em parceria com a APEX –
Agência de Promoção de Expor-
tações –, estamos realizando duas
grandes mostras de produtos brasi-
leiros na Lafayette e Printemps, que
são duas lojas de departamento de
prestígio. E produtos brasileiros em
dois supermercados –oCarrefour e
o Casino. Isso é importante porque
todos sabemque, numa lojadessas,
um produto de má qualidade não