Marco_2005 - page 81

Mesa-
Redonda
94
R E V I S T A D A E S PM –
M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 5
JR
– Reunimos esses profissionais e
especialistas, que bem conhecem
essaquestãodacompetitividadedo
Brasil noconjuntodenações, asex-
periências positivas e negativas e
as perspectivas para o futuro. Gos-
taria de pedir ao Octávio que des-
se início ao debate.
OCTÁVIO
–Minha impressão é de
que houvemudanças estruturais no
Brasil, sobretudo depois da mu-
dança cambial. Essa cultura expor-
tadora no Brasil inaugurou-se, de
fato, em 1999, e ficou ainda mais
explícita em 2002, em termos da
exportação de manufaturados. O
gráficodosprodutosmanufaturados
exportados pelo Brasil mostra, cla-
ramente, uma inflexão a partir de
meados de 2002, quando o regime
cambial ganhou maturidade, reve-
lando um novo apetite exportador
das empresas brasileiras. Essas
empresas passarampor umperíodo
difícil de reestruturação financeira
e gerencial, mas exibiram grandes
eficiência e competitividade, o que
as tornou, também, agressivas no
mercado internacional.
JR
– Isso tem a ver com o Plano
Real?
OCTÁVIO
– Certamente. Estamos
comemorando dez anos de relativa
estabilidade monetária; mas acho
que – acima de tudo – foi o mo-
mento em que o Brasil teve a cora-
gem de expor a sua moeda para
competir com outras, nomundo, a
partir de janeiro de 1999. Criou-se
uma cultura de exportação. Por
exemplo, em 1998, as exportações
representavam apenas 13% da
produção totalda indústriapaulista;
hoje 28% –mais que o dobro.
JR
– No passado, isso acontecia
devidoàquedadomercado interno.
OCTÁVIO
– Esse
trade-off
não
existe mais. No passado, qualquer
aumento nomercado interno redu-
zia o apetite exportador. Agora a
exportação também é um porto se-
guro e o exportador vê o mercado
externoconquistadocomo sagrado,
de que não vai abrir mão – apren-
deu a lição. Na época da desva-
lorização doReal – entre 94 e 98 –
vários mercados, que eram quase
cativos, foram perdidos. Quando o
exportador reconquista esses mer-
cados, não quer mais perdê-los. A
exportaçãoentrou, definitivamente,
na vida das empresas, virou coisa
séria. Ganha-se dinheiro expor-
tando – não apenas pelo câmbio,
mas porque as empresas são, de
fato, mais eficientes.
JR
– Ouvindo o Octávio, tenho a
impressãodequeoquedeterminou
omovimentodoBrasil para fora de
suas fronteiras foram, puramente,
fenômenos financeiros – câmbio,
moeda. Será que foi só isso?
“NÃOFAZSENTIDODIZERMOSPARAO INVESTIDOR
INVESTIRAQUIE IRBUSCÁ-LO,NOAEROPORTO,COM
UMCARROBLINDADO.”
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