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M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A DA E SPM
PAULO
– Houve vários fatores –
umamudança de geração política
e empresarial, a partir do final dos
anos 80 e começo dos 90; nova
gestão, novos processos, novas
formas de ver o mercado. Muitas
pessoas foram cursar universidade
no exterior, fazer MBAs, aprender
outras línguas. O Brasil começou
a se perceber não mais como a
ilha do país do futuro, mas como
uma peça nas engrenagens do
mundo. Segundo, a comunicação
e a fluência, e a velocidade das
comunicações e da transmissão
da informação – tudo isso fez com
que o mercado tivesse uma outra
dinâmica. Somando esses fatores
aos econômicos, começamos a
vermaisclaro.A inserçãonomun-
do não é a passeio –mas a negó-
cios. Essa reorganização da socie-
dade, principalmente das empre-
sas, foi a base de tudo.
JR
– Também tivemos mudanças
políticas importantes. Afinal, já
são vinte anos de democracia...
FERNANDO
– O componente
político vem-se somar aos outros
fatores – financeiros, econômicos,
humanos e empresariais.Mas hou-
ve, também, uma consciência dos
governos para a necessidade dessa
abertura para o mundo. Digo dos
governos, porqueo comércio exte-
rior também entrou na pauta dos
governos estaduais. Um assunto
vistocomoquestãonacional –mas
que os estados têmmuito a con-
tribuir. Mesmo com retrações do
mercado interno, o Brasil tem
conseguidoatéapoiar o seudesen-
volvimento no mercado externo,
trazendo recurso, renda, trabalho.
Enãovejocomomeramentecircuns-
tancial esse momento de ampliação
das exportações.
OCTÁVIO
– Na história econômica
do Brasil, é a primeira vez que as
exportações crescem junto com o
aumento do mercado doméstico.
CARLOS
– Queria propor que ten-
tássemos olhar a competitividade
através de uma suposta lente “gran-
de angular”. Acho que devemos ver
o comércio exterior como resultante
e não como causa da competiti-
vidade.Naminhavisão,opaís torna-
se competitivo, não apenas para
vender os seus produtos, mas para
atrair talentos, investimentos. Não
é apenas comércio exterior.Quando
falo da competitividade de uma
nação, vejo – basicamente – duas
vertentes: uma é definida pelo IDH
– ÍndicedeDesenvolvimentoHuma-
no, instrumento de medição usado
pela ONU quando elabora os rela-
tórios anuais do PNUD. O IDH de
um país é a resultante das notas
obtidas por esse país em itens como
educação, saúde, saneamento, habi-
tação, segurança pública, mortali-
dade infantil, presença (ou ausên-
cia), de endemias e mais uma série
de indicadores que têm a ver com a
qualidade de vida. Talvez o proble-
ma central que temos de enfrentar,
noBrasil, seja a educação. Empresas
importampessoalqualificado, tecno-
logia da informação, porque oBrasil
não os produz – há excesso de
serventes de pedreiro, mas falta
mão-de-obra qualificada, científica
de alto nível. Atrás disso vem o
resto, como, por exemplo, a saúde,
quedeterioraporqueaspessoasnão
têm educação para impedir. Então,
o lado IDH, para mim, é muito
importante. O outro lado é o arca-
bouço institucional. Como o país é
administrado? Como funcionam os
poderes, qual a eficácia da buro-
cracia, como andam os desperdí-
cios governamentais, como está a
seriedade da gestão pública – e
privada – existem marcos regula-
tórios definidos, observados e
atendidos?Quando um país desen-
volve esses dois pilares, ele acaba
tendo produtividade, desenvolvi-
mento – e o comércio exterior é
resultante. Logo, oqueestá tornando
o Brasil mais competitivo – em
primeiro lugar–éoamadurecimento
do seu arcabouço institucional.
Quem trata, comoeu tratei, durante
anos, com países da América La-
tina, sabequeestamosmuitoadian-
te deles todos, apesar das nossas
deficiências – em especial na área
degoverno.Tivecontatodiretocom
governos catastróficos – Equador,
México, Venezuela, até Argentina.
Em 1992, conseguimos fazer o
im-
peachment
de um presidente da re-
pública, sem que houvesse um só
general que desse entrevista. Tenho
66 anos e, quando tinha 20, esses
temas eram privativos dos generais,
“NOSETORPRIVADO,VOCÊÉPERMANENTEESEUS
SUBORDINADOSTEMPORÁRIOS.NOSETORPÚBLICO,
ÉOCONTRÁRIO.”