105
M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A DA E SPM
trabalhista, política, cambial, judi-
ciária que, quando feitas, têm sido
feitas de forma parcial, insatis-
fatória, e não vão gerar crescimento
econômico.No fundo, éaí queque-
remos chegar: opaís crescendo7%,
8% ao ano, gerando 2 a 3 milhões
de empregos por ano e tendo,
conseqüentemente, elevação de
renda
per capita
, nível de emprego
satisfatório, população otimista,
infra-estruturamelhorando.Essepaís
dos sonhos só existirá com essas
reformas: com executivo, congresso
e judiciário funcionando de forma
adequada. Essas externalidades são
a grande desvantagem competitiva
do Brasil. Sei que outros países do
mundo têm problemas, mas não
devemosnosdesculparcomosmaus
exemplosdosoutros; temosamissão
de tornar este país competitivo,
socialmente justo e desejável do
ponto de vista do habitante. E, para
isso, precisamos ter coragem.
JR
– Em relação à sua última obser-
vação, tenho um amigo, professor
da Escola deAdministração Pública,
que costuma dizer: “Quando exami-
no a qualidade da nossa adminis-
tração pública, desespero-me; mas,
quandocomparo, tenhoesperança”.
OCTÁVIO
– O resumo da ópera,
doque oRobertodisse é: o ímpeto
reformista não pode arrefecer; tem
de ser permanente. E, certamente,
na macroeconomia, vamos ama-
durecer – institucionalmente e na
boa direção.
CARLOS
– Fico contentíssimo ao
ver queaeducaçãoédestacadaco-
mo pilar – essa é uma antiga briga
minha. Investimento em educação
nãoédardinheiroparaaeducação.
Até damos; só que ele não chega
na ponta. Quero acrescentar outra
coisa: acho que estamos precisan-
do, também, de um pouco de
endomarketing. Não há empresa
que tenha sucesso sem cuidar tanto
do marketing externo como do
marketing interno. Na empresa que
presidi durante uma década havia
um exército de 14 mil pessoas e
tinham de estar, todas, motivadas
e comprometidas. Acho que, no
Brasil, está faltando esse endomar-
keting; cultivamos demasiada-
mente o gosto pela autoflagelação.
Há uma grande necessidade de se
posicionar o Brasil numa pers-
pectiva correta. Li a entrevista do
Ministro Pratini de Moraes, que
teve a coragem de chamar o dono
do restaurante e dizer: “não me
ofereça picanha argentina no
Brasil!”. Isso não é comum; fomos
educados – colonizados – para
achar que tudo que está fora das
nossas fronteirasé fantásticoe tudo,
de dentro, não presta. A Embraer
faz sucesso fora do país, mas aqui
falam: “Não compro avião cai cai”.
Se é fabricado na China, compra!
Esse ainda é um lado que
precisamos trabalhar. Por séculos
arrastamos isso – e temos uma
“OPROCESSODEAMADURECIMENTO INSTITUCIONAL
ÉCUMULATIVO.NÃOSEANDAPARATRÁS.”
imensa dificuldade de associar o
Brasil com a qualidade. Quando se
fala de alguma coisa francesa, o
que vem à cabeça? É chique, ele-
gante, sofisticado, tenhovontadede
ter. Lembro-me dos produtos ja-
poneses da década de 70; eram de
“PELAPRIMEIRAVEZ,ASEXPORTAÇÕESCRESCEM
JUNTOCOMOAUMENTODOMERCADODOMÉSTICO.”