Setembro_2001 - page 75

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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2001
JR–Dessa formaqueoSr. colo-
ca, não sóestamosperdendoa
batalha da educação como
estamos também perdendo a
batalhadodesenvolvimento...
JM –Mesmo com avanços expres-
sivos, ainda não estamos ganhan-
do. Se olharmos o Brasil na sua
perspectiva histórica, percebemos
que correspondem à vitórias parci-
ais.Mas, o fatodenãoganhar uma
batalha, não significa que a guerra
foi perdida.OBrasil continuasendo
pólo de atração de fluxosmigratóri-
os, que até hoje buscam no país a
esperançadonovoedaconstrução
do futuro. A vinda dos investimen-
tos não se deu unicamente porque
oBrasil estabilizouasuamoeda.Os
investimentos foram canalizados
paraa infraestrutura física, comoas
telecomunicações. A área financei-
ra, porexemplo, poratendermerca-
dos em expansão, constitui-se em
oportunidadedeocupaçãodenovos
nichos. Em muitos países isto já
não émais viável. Refiro-me espe-
cialmenteàEuropa, ondeaestabili-
dade demográfica gerou um enve-
lhecimento da população e uma di-
minuição do empreendedorismo.
Estudos recentes, realizados tanto
na Europa como nos Estados Uni-
dos, vêemnoBrasil umespaçopara
novas iniciativas ede inovaçãoque
merece a atenção dos estudiosos.
As conquistas são parciais e a per-
severança na melhoria da qualida-
dedoensino, naexpansãodoaces-
so e na universalização da educa-
ção,devemserpreservadas,porque
são esforços que exigem continui-
dade.
JR –O Sr. falade lideranças, li-
derançastêmavercom forma-
ção, e formação temaver com
educação. Como é queo Sr. vê
odesempenhodo sistemaedu-
cacional brasileiro nessa for-
mação de lideranças, que o Sr.
mesmoapontacomoumdosca-
minhos paraonossodesenvol-
vimentoeaté sobrevivência?
JM – Com certa preocupação. Vejo
que parte do sistema educacional
brasileiro encontrou esse caminho
para ensinar a conhecer, a pensar,
a fazer. Houve uma evolução. Mas
carecemos de um maior convívio
comooutro.A formaçãode lideran-
ças resultaem traçosdehabilidades,
de competências que são forjados
noconvíviocomooutro,na interação
com pessoas diversas, pessoas di-
ferentes de nós. Vejo com preocu-
pação, no processo educacional, a
valorizaçãodoacessoà informação
através de meios eletrônicos. No
passado a "turma" ingressava em
umaescolaou faculdade, vivenciava
oprocessoeducacional ao longode
4 anos, e fazia da formatura uma
aprendizagemcoletiva.Esseconcei-
tode "turma"criaoportunidadespara
forjar lideranças, criar redes dura-
douras,quepassamaalimentarpro-
jetosousadoseambiciosos.Hoje, a
fragmentaçãodasestruturaseduca-
cionais oferece a possibilidade de
fazer umadisciplinaaqui ouacoláe
acessar as informações pela via da
Internet. Issoémeritório,masquan-
do se prescinde do convívio com o
outro, perde-se a oportunidade de
criar, no processo educacional, o
espaço para forjar lideranças, que
animaaassumir novas responsabi-
lidades.A idéiadequeaescola for-
maunicamenteparaomercado, tira
delaa responsabilidadede tratar di-
mensões importantes para um pro-
jeto de vida. Refiro-me, por exem-
plo,àcidadania.Aprofissãoque leva
aosustentoéumapré-condição
sine
quanon
paraumapessoase inserir
na sociedade. Mas, a dimensão fa-
miliar e uma visão mais ampla do
seupapel nessasociedadesão tam-
bémnecessárias. O processoedu-
cacional devecriaroportunidadesde
convívio com pessoas diferentes.
Estou-me referindo não só ao con-
vívio dentro da sala-de-aula, mas
com camadas sociais distintas. Co-
nhecer as diferenças culturais e ét-
nicas ajuda, ao longo da vida, a vi-
ver em sociedade. Torna o projeto
de vida mais rico do que somente
umprojetoprofissional. E isso cabe
aoprocessoeducacional – inserirno
jovem essa sensibilidade pelas di-
mensõesmúltiplas, semminimizara
importância dos objetivos profissio-
nais, mas não fazendo deles o úni-
co projeto na sua trajetória de vida.
JR – O Sr. parece estar descre-
vendoo sistema ideal. Confesso
quenãoreconheçoonosso sis-
tema deensinonessequeo Sr.
descreve.
JM – Acho que todos os sistemas
educacionais sempre foram imper-
feitos para os momentos que uma
sociedadeenfrenta.Nasanálisesdo
Século XIX encontraremos críticas
semelhantesàsdehoje.Obviamen-
te, não a respeito da tecnologia da
informação, poisesseéum fenôme-
no novo. Há cinco séculos, quando
dosurgimentodapalavra impressa,
acenava-secomo desaparecimen-
to da escola e do professor, porque
seriamsubstituídospelo livro. Hoje,
novamente, oespaçodigital seofe-
"Estudos recentes,
realizados tantona
Europa comonos
EstadosUnidos, vêem
noBrasil umespaço
paranovas iniciativas
ede inovaçãoque
mereceatençãodos
estudiosos."
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