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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2001
humanidadesadiversidade socioe-
conômica é maior do que nos cur-
sosdeMedicina, porexemplo.Essa
diversidade no seio da universida-
de ou em instituição de ensino su-
perior é possível e necessária.
Não precisamos de uma política de
cotas. A presença negra é mais vi-
sível na pós-graduação, por causa
dos critérios deacesso. Quemaca-
ba fazendo uma pós-graduação,
preparou-se numa boa graduação.
Nãosedevedistorceroprocessode
ingresso através de uma interven-
çãogovernamental.Adiversidadeé
enriquecedora na universidade e
nas empresas. Muitas empresas
que, paraconquistarnichosétnicos-
sociaisdemercado, contratampes-
soas vindas desses nichos. Essa
integração acabará ocorrendo pela
viadoconvívionadiversidade,oque
émelhor.
JR–OSr. faloudepúblicoepri-
vado,eesseéumdostemasque
gostariadetratar.Acreditoque
22 e 78% reflitam o quadro da
universidade pública brasileira
deummodogeral.Qualitativa-
mente – público e privado –
quais sãoasdiferenças?
JM–Osegressosdeescolaspúbli-
casque ingressamnauniversidade,
precisam, além do ensino gratuito
queamesmaoferece, deumapoio
que transcende o custo do ensino.
Eles devem ser beneficiados com
ummaior número de bolsas-traba-
lho, bolsas-alimentação, bolsas-
moradia e bolsas-saúde. Um dos
problemas das desigualdades
socioeconômicas brasileiras é que
não basta o jovem ingressar. Ele
precisa tambémse formar.Osestu-
dos do NUPES –– Núcleo de Pes-
quisas sobreEnsinoSuperior,mos-
tram que esses jovens, provenien-
tesdeclassessociaisdemenor ren-
da, precisamdemaisapoiopara se
formar e desempenhar um papel
integrador na sociedade.Outras ini-
ciativascomooscursospré-vestibu-
laresde reforço, comooCursinhoda
Poli ou o doNúcleo deConsciência
Negra, procuram tornar mais aces-
sível o vestibular, preservando os
padrões de mérito. Uma limitação
que existe antes do vestibular é a
formação recebida, prejudicada por
professoresmal remuneradosesem
o suficiente preparo. As escolas do
interior do Estado conseguem ofe-
recer melhores condições de vida
aos seus professores. Há ummaior
númerodealunosque ingressamna
USP vindos de escolas públicas do
interior doquedaCapital. Istomos-
traqueascondiçõesdevidadopro-
fessor são determinantes na quali-
dade do ensino oferecido ao aluno.
JR – Sabemos que os números,
hoje, sãoaproximadamente2/3
dosalunosnoensinosuperiorna
escolaparticulare1/3nasesco-
las públicas – como é que o Sr.
vêaqualidadedoensinonesses
dois setores?
JM – Tanto no setor público quanto
no setor privado, encontramos de-
sempenhos excelentes e desempe-
nhos inaceitáveis. Isto pouco tem a
ver com a origem da iniciativa – se
é pública ou privada. O que então
caracteriza a qualidade do ensino
superior?Não sóum corpodocente
competente, mas a inquietude
provocada pela busca do conheci-
mentonovo,apesquisa,adescober-
ta das novas práticas. Isto torna o
ensinomaisdoque transferênciade
informação, mas o despertar da
inquietudeno jovempara "aprender
a aprender". E amelhor forma dele
desenvolver a habilidade da apren-
dizagemé terumprofessorqueseja
um estudioso. O professor que pre-
parouoseucursohádezanose ten-
dea repetir-seacadaano, contribui
para criar uma disciplina de
memorização e talvez de raciocínio
no estudante. Está longe do papel
de um ensino superior, que é o de
despertar o senso crítico. Somente
o professor que está pesquisando
pode inseminar, no jovem, a vonta-
dedeaprenderpelo restodavida.E
para isso, a pesquisa é necessária.
Pelo fatodasuniversidadespúblicas
estarem mais comprometidas com
uma visão de longo prazo, sendo
mantidas peloEstado, suas capaci-
dades de se projetar no futuro são
maiores. Infelizmente, elasnão têm
crescidoquantitativamentepara res-
ponder àsdemandasdasociedade.
O estudo "Presença daUniversida-
dePública", lançado no ano passa-
do, inclui comparações entre o en-
sino superior público e o privado.
Temos, do ladoprivado, instituições
comprometidascomprojetoseduca-
cionais. Algumas são tradicionais,
outras recém-criadas. Entre estas,
algumasalmejamunicamentea ren-
tabilidade por isto, investindo em
educação que pode assegurar um
alto retorno.Quantoàalegada inefi-
ciência da universidade pública,
cabe depurar dos seus orçamentos
as distorções provocadas por gas-
toscomaposentadorias,precatórios
e hospitais universitários, para uma
correta comparação de custos en-
tre os dois modelos de ensino no
Brasil.Asimples somadoorçamen-
"Achoque todos
os sistemas
educacionais
sempre foram
imperfeitospara
osmomentosque
uma sociedade
enfrenta."