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RevistadaESPM–Setembro/Outubrode 2001
Aylza
– E que temos levado
em consideração, tanto na
graduaçãoquantonapós-gra-
duação. Tantoéquecomeça-
mos agora com programas
que tratam dessas questões
pessoais. OAmatucci, ao fa-
lar sobre a função da univer-
sidade, tirou-me uma grande
preocupação, quase um sen-
timento de culpa, de não ter-
mos pesquisa. Acho que te-
mos é de educar mesmo. E
uma das coisas que a gente
ouvemuito–donossoprofes-
sor principalmente – é que
ninguém educa 40 alunos
numa sala de aula, nem edu-
ca só com 3 horas à noite.
Queria colocar e ouvir a opi-
nião de vocês. Discordo pro-
fundamente. Acho que pode-
mos educar 40, 120 ou 200
emmeia hora. Por que? Por-
queachoqueeducaçãoéum
processo holístico. Às vezes,
um exemplo dado por nós, lá
na frenteda sala, educamais
doquehorasehorasdeestu-
do. Mas como esse é um as-
sunto polêmico, gostaria de
debate-lo. Temos 40 alunos
em sala de aula, eles vêm
duas noites por semana, em
média, e passam umas 3 ho-
ras conosco. Se estudam
mais uma hora aqui dentro,
ficam conosco 8 horas por
semana. E tenhoapretensão
deser educadoraeconseguir
levar esse processo adiante.
Isso é possível, Gloria?
Gloria
– De alguma forma,
sim. De algumamaneira você
tem que abrir este caminho.
Aylza
– O processo começa
conosco?
Gloria
– Começa e esse é o
papel do professor.
JR
–Aliás,háumapalavraque
nãoédemuitousonasuniver-
sidades, mas que se ouve
muito em cursosmenos infor-
mais, queéo “facilitador”. Até
que ponto o professor moder-
no deixou de “professar” para
ter a funçãomaior de facilitar?
FG
–Achoqueapalavramoti-
vação, que a Gloria usou, é
mágica, é muito importante.
Nóssabemos,entretanto,que,
muitasemuitasvezes,nagra-
duação mais do que na pós-
graduação, o aluno não tem
motivação. O que fazer, Glo-
ria?Atéondeoprofessorpode
intervir para que o aluno en-
contreessa forçamágica, sem
aqual nãovai aprendernada?
Gloria
– Eu discordo, Prof.
Acho que ele tem motivação
sim. Ele chega à faculdade
com uma supermotivação. O
fato dele ter entrado já tem a
ver com a grande motivação
que tinha, agrandeexpectati-
va, a esperança que deposi-
tavanessa sua trajetória.Mas
estou falando do aluno. Onde
estáoprofessor?Essemedia-
“Ouçonas
empresas: ‘Quero
umprofissional
que conheça
idiomas.’ Enão
vejo, nemna
graduaçãonem
napós, oensino
do inglês, do
francêsou
espanhol.”
“Oaluno
cobraqueo
professor
ensineaele,
enquanto
fica lá ‘sendo
ensinado’.”
Gloria
– Na pós-graduação?
Sempreé. Desdequemotiva-
do, o homem sempre é
transformável.Sevocêconse-
guir fazê-lo enxergar o signifi-
cado, ele se encanta, se en-
volvee vai nessadireção. En-
canta-senosentidodesesen-
sibilizar, internaliza isso como
valor.
Aylza
– Então, essa primeira
responsabilidade é nossa,
comoeducadores?